domingo, 11 de janeiro de 2015

Momentos do cicloturismo II - O Anfitrião.



Era o mês de agosto de 2012. Eu estava no segundo ou terceiro dia de um projeto de pedalar desde Cananéia, SP até Ilha Grande, RJ. O projeto chamava-se Litoral Paulista de Fio a Pavio.

Passava da hora do almoço quando eu saí da SP 222 e entrei na Estrada do Despraiado. Uma estrada de 45 Km, dentro da Reserva da Juréia - Itatins, que me levaria até a Cidade de Pedro de Toledo, na Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, SP 055.



Eu não tinha ideia das dificuldades que iria encontrar nessa estrada de terra, barro, cascalho, totalmente desconhecida. Sabia apenas que teria que atravessar por dentro de uns dois ou três riachos, bem rasos, se não chovesse.



E a noite chegou rápido. Olhava para ambos os lados e não via um local para montar um bom acampamento. Era só barranco cheio de pedras. Pior que eu estava com fome, pois comera unicamente um pacote de Ponkãs até agora. Mesmo assim resolvi continuar pedalando até encontrar um lugar para acampar e preparar um jantar.

De repente, ouço duas pessoas que vão conversando á minha frente Tratava-se de um jovem senhor e um rapaz. Depois de um  boa noite bem sonoro, e mais alguns comentários que me identificaram como cicloturista, perguntei-lhes sobre algum local para montar um acampamento. O Senhor respondeu:
- Tem um bar logo ali na frente.
- Um bar ? Perguntei incrédulo, pois era impossível que pudesse ter um bar no meio do nada.
- Sim, um bar, ele respondeu. É na minha casa. É só o Senhor continuar subindo que irá encontrá-lo, concluiu.

Subi mais um pouco e...
E não é que tinha mesmo!!!

Era um Barzinho simples, do Sr. Joaquim, conhecido em toda região como O Compadre.
Um senhor de mais de 70 anos, boa prosa, muuuuuuiiiito simpático, que foi logo me dando as boas vindas.



Comentei com ele que a noite me pegara no meio da Reserva e se eu podia montar a minha barraca no quintal dele.
Ele disse que eu iria dormir no sofá da sala dele, não precisava montar barraca. Infelizmente o sofá era pequeno, de apenas dois lugares e como eu insistia, concordou que eu estendesse meu colchonete sob o teto do bar e dormisse ali mesmo.

O filho dele - aquele senhor que me indicara o bar - correu a tirar um banco que havia por ali para me liberar o local de "minha cama".

Tudo acertado o Compadre me perguntou se eu já jantara. Disse-lhe que iria acender meu fogareiro e preparar o jantar. Ah, mas ele não deixou mesmo! Pediu que eu lhe entregasse os pertences e chamou a sua filha para preparar o meu jantar em seu próprio fogão!
Jantei como um leão faminto acompanhado de um refrigerante e fiquei batendo papo com o Compadre durante as horas seguintes. Já devia passar das 21 horas quando ele fechou o bar e fomos todos dormir.

Escuridão total!!!

Não muito distante da minha "cama", sobre uma caixa forrada com papelão dormiam dois cães enormes, com os quais eu fizera rápida amizade. Meus guardiães na mata escura, pensei.
Naquele momento, emocionado agradeci a Deus pela Sua providência e dormi uma noite super tranquila.

Acordei o dia já estava claro e fiquei admirando os cães rosnarem e esbravejarem com os frangos que insistiam em tentar roubar-lhes a ração de suas panelas.
Parecia que todos os pássaros do mundo estavam ali cantando para me cumprimentarem. Uns pássaros azuis lindos faziam verdadeira festa numa árvore próxima.
Ah, obrigado Papai do Céu!

Obrigado Compadre! Que Deus seja contigo sempre, nesta e na outra terra!


Para ver o relato completo, clique AQUI.

Um comentário:

Gilmar Mendes disse...

Legal Waldson, que boa lembrança desse
gesto solidário, muito comum na cultura
caipira, embora haja infelizes
exceções. Falo com propriedade porque
sou caipira.

Só essa estrada de 45km tem material
suficiente para se documentar uma
aventura. Certamente devem haver
araçás, ingás, goaiabeiras, maracujás
roxos. Quem é conhecedor da natureza,
com olhos e ouvidos atentos perceberá
uma grande diversidade.

Sempre bom ver lindas fotos :)

[]s