sábado, 29 de janeiro de 2011

L & W - Rumo ao Litoral Sul de São Paulo.

Tudo começou em julho de 2010 quando retornei de um ciclotur que fiz para Peruíbe, pela BR-116 - Rod. Régis Bittencourt. Naquela ocasião, conversando com o amigo Luciano Ramos, comentei sobre o meu desejo de chegar até Ilha Comprida, quando então ficamos de marcar uma data futura para programarmos esse ciclopasseio juntos.

Agora, logo depois do Natal trocamos alguns e-mails, mensagens telefônicas e logo surgiu a brilhante idéia: E se nós conseguissemos emendar o dia 24 de janeiro, uma vez que o dia 25 é feriado no Município de São Paulo? Babei como um cachorro louco só de pensar que esse pedal seria possível em tempo tão recorde! Ficamos então de conseguirmos junto a direção de nossas empresas a liberação para o dia 24/01/2011. Conseguimos!!!!
 Cabe aqui até um agradecimento especial aos nossos empregadores por nos conceder tamanha lisonja! Obrigado chefes!

Bom, começaram a troca de e-mails em cima do projeto Rumo ao Sul. Vai e-mail, volta e-mail, vai SMS, volta SMS e finalmente chegamos a conclusão: Sairíamos de São Paulo de ônibus até a Rodoviária de Santos. De lá pedalaríamos por Praia Grande, Monguaguá, Itanhaem, Peruíbe, Itariri, Pedro de Toledo, Miracatu, Iguape, Ilha Comprida e Cananéia, num total de 3 dias, sendo, o 1o. dia de Santos a Pedro de Toledo, o 2o. de Pedro de Toledo a Ilha Comprida e o 3o. dia de Ilha Comprida a Iguape, num total de mais ou menos 350 Km.


Mas... bom deixa prá lá, vamos ao relato do ciclotur.

O relógio marcava 4:23 horas da manhã daquele dia 22 de janeiro de 2011, quando eu tranquei o portão pelo lado de fora. Uma lua cheia iluminava o céu da madrugada, trazendo um calor até confortável. Havia marcado com o Luciano por volta das 5:30 no Terminal Rodoviário do Jabaquara, portanto, como soi acontecer, eu estava atrasado. Com certeza eu não faria o trajeto da Vila Rica até o Jabaquara em meros 30 minutos com a bike carregada daquele jeito. E... quanta subida me esperava até lá! Estava animado. Um misto de apreensão e alegria me envolviam naquele momento . A brisa fresca da madrugada vinha de encontro ao meu rosto enquanto eu ia adquirindo confiança e me familiarizando com a bike pesada nas descidas mais íngremes. Na noite anterior eu pesara os alforjes: 14 Kg. Agora tinham mais 3 caramanholas de água, portanto eu estava transportando uns 15 Kg de bagagem.

Pouco mais de 22 Km pedalados e ás 6:10 horas cheguei ao local de encontro (Poxa, o mundo bem que poderia ser plano!). Lá estava o grandão Luciano sorrindo a minha espera! Cumprimentamo-nos e saímos correndo em direção aos guichês das empresas de ônibus, pois queríamos sair o mais cedo possível. No guichê da Cometa fomos informados que um ônibus sairia ás 6:15 hrs. com destino á Rodoviária de Santos. 6:15???!!! Segura esse busão, seu moço!!! Eram 6:15 e o ônibus ficou nos aguardando na plataforma de embarque enquanto comprávamos as passagens. O próximo sairia somente ás 7 horas. Ufa, conseguimos embarcar a tempo! As bikes foram colocadas no bagageiro do jeito que estavam montadas: com alforjes e tudo! Legal o pessoal da Viação Cometa!

Ói nóis aqui traveis!

No busão, não deixamos ninguém dormir, pois começamos a tagarelar, tagarelar, por as conversas em dia, falar sobre a aventura que nos esperava e quando o busão já estava quase em Santos o Luciano pediu licença para dormir um pouco. Eu não consegui dormir... a ansiedade não deixava.

Rodoviária de Santos-SP

Por volta das 7:20 horas da manhã estávamos nós tomando o café da manhã no bar da Rodoviária.
Logo em seguida saímos em direção ao túnel que nos levaria ao Canal 2, se não me engano, ao longo do qual atingiriamos a ciclovia na orla das Praias. 

Ciclovia central em Santos-SP. 
Testanto os pneus na areia.



Papo vai, papo vem, praia vai, praia vem, a gente pedalava tranquilamente, felizes, observando e fotografando as paisagens á nossa volta. 

O teleférico de São Vicente.



Luciano, empolgadíssimo.



São Vicente-SP. Entrada da Ilha Porchat




Em São Vicente, atravessamos o Canal pela belíssima Ponte Pênsil. 


Havíamos combinado passarmos na casa dos avós do Luciano, em Praia Grande, para comprimentá-los. Pegamos a ciclovia da Av. Presidente Kennedy e estávamos quase chegando quando...TAC! Um raio quebrado na bike do Luciano.
Xiiiii, pensei, será que vai começar tudo de novo!? Quem conhece os nossos relatos já sabe do que estou falando.
Passamos na casa dos avós do Luciano para cumprimentá-los e batermos uma foto.




Logo após nos dirigimos a uma bicicletaria que ficava nas proximidades. 

 
Raio trocado, pneus calibrados, seguimos viagem pela Ciclovia. A Av. Pres. Kennedy tem aproximadamente 20 Km e esta quase toda com ciclovia. Não fomos pela ciclovia da praia, pois havia muito fluxo de pessoas o que nos retardaria bastante. Infelizmente muita gente anda a pé pela ciclovia, corre, passeia, etc.

Av. Pres. Kennedy em Praia Grande, SP.

Logo chegamos a Monguaguá, onde termina a Av. Pres. Kennedy e somos obrigados a trafegar pela Rodovia Padre Manuel da Nóbrega. Mas, lógico, primeiro uma parada num quiosque da praia para comer alguma coisa e refrescar a goéla. Nessas alturas o sól estava tórrido!





Começamos a pedalar no acostamento da rodovia e coincidentemente começamos a reclamar dos nossos selins! 



 Meu selim estava me machucando bastante, provocando muitas dores na região glútea. Eu o havia testado em dois pedais, um de 40 Km e outro de 45 Km. Na noite anterior ao passeio ainda pensei em subistituí-lo pelo Velo Plush que uso na Estradeira, mas estava cansado e cheio de afazeres e acabei deixando a idéia de lado. Mal eu sabia que daqui para diante as dores provocadas pelo selim iriam determinar mudanças drásticas em nosso passeio.
O Luciano estava com um selim muito estreito, destinado á treinos, não apropriado a um ciclotur tão longo, onde uma "poltrona" é quase mais apropriada.
Como formamos uma equipe coesa, nada melhor do que ambos estarmos com problemas de selim, assim um não estraga o passeio do outro, hehehe!  
 
A medida que aumentávamos a kilometragem também aumentávamos as reclamações. Caramba, não havia mais posição para pedalar! Sentávamos de lado, aproveitávamos as descidas para ficar um pouco longe de nossos "algozes", mas a dor só aumentava.

Num derminado  momento o Luciano sugeriu que ficássemos aquela noite em Peruibe, ainda que sabíamos não existirem Campings na cidade. Procuraríamos uma pousada, tomariamos um banho e iríamos para a praia curtirmos o resto de tarde ensolarada, assim dariamos descanso para os nossos sofridos bumbuns.


 
Chegamos em Peruíbe. Olhei para o ciclocomputador que marcava 105 Km pedalados. e o relógio macrcava  17:00 horas. Estava bom, afinal faltava muito para Pedro de Toledo, onde estimávamos passar a noite.

Portal de Peruibe - SP.


E agora, como achar uma pousada? Primeiro perguntei numa guarita destinada a ajudar turistas. O jovem me encheu de panfletos e apenas nos disse em quais ruas haviam mais concentração de pousadas. Lembrei do comprade do meu compadre que conseguiu um ótimo hotel, com preço bem acessível em Fortaleza-CE, perguntando de boca em boca. O Luciano aprovou a idéia e lá fomos nós. Paramos num quiosque de praia, bem longe do centro de Peruíbe e a dona nos indicou um conjunto de Chalés, que dizia ser bom e ter um preço bem razoável. Rumamos para o endereço apontado e ao chegarmos fomos recebidos pelo Marcelo, o gerente da pousada:  Chalet dos Coqueiros. Choramos e conseguimos um bom desconto. Ficamos  no Chalet nro. 7, com uma sala/cozinha em baixo e dois pequenos dormitórios em cima. O preço acordado incluia o café da manhã. Nada mal para dois bikers cansados e cheios de dores, pois uma cama nessas circunstâncias soava melhor que um colchão inflável numa barraca de Camping! 

Chalet dos Coqueiros.





Bikes guardadas a sete chaves, banho tomado, rumamos para o quiosque da jovem que nos indicara a pousada, afinal fora esse o trato.
Foi show! Peruibe é um lugar muito gostoso com praias maravilhosas e aconchegantes. Nada mal para quem quer tomar um suco, refrigerante, cerveja, comer porções de fritas, peixes, camarão, etc. Fora o visual que é muito bacana.

Na praia de Peruibe. Só alegria!






 Voltamos para a pousada, afinal depois de mais de 100 Km pedalados precisamos dormir, descansar para o dia seguinte.
O Luciano caiu na cama e desmaiou. Eu ainda, apesar das dores, sai pedalando até uma padaria para comprar uma garrafa de água gelada, pois não estava com sono, ou estava tão cansado que não conseguia dormir. Já bem tarde da noite fui para a cama. Levantei por volta das 2 horas da madrugada e fui para a cozinha preparar um miojo na espiriteira. Não conseguia dormir. Estava um calor infernal, embora um ventilador de teto enorme,  rugisse como  um motor de aeroplano sobre a minha cabeça. Comi, escovei os dentes e fui de novo para a cama.
2º Dia. 
 
Sete horas da manhã marcava o celular quando acordei na manhã seguinte. Estava com um pouco de dor de cabeça e louco por tomar um café. O café da manhã seria servido a partir das 8 horas. Logo o Luciano apareceu bocejando. Tinha dormido como um urso em hibernação!
Arrumamos as tralhas sobre as bikes, tomamos o café da manhã e saímos para mais um dia de pedal. Aproximava-se das 9 horas da manhã, quando saimos da pousada. O sól quentíssimo já aquela hora ia alto.

Na noite anterior eu fizera curativo nas nádegas usando uma mistura de pomadas para assadura, fungicida e xilocaína na tentativa de conseguir uma "cura" imediata. Quando sentei no selim da bike parecia que eu tinha conseguido, mas poucos kms adiante as dores recomeçaram. Conforme relato do meu companheiro de viagem, ele estava com o mesmo problema. Poderíamos ter abortado o passeio, saído em direção a Guaraú onde encontraríamos dezenas de Campings a nossa disposição, curtido as praias, os quiosques , o mar, MAS... (o que seria dos seres pensantes se não fossem os MAS?!...) seguimos viagem, sem nem termos pensado nesse assunto, afinal não sabíamos o que a altimetria aliada aos nossos  malvados selins nos reservaria neste tórrido dia.
Nosso destino nesse dia: Ilha Comprida, via Miracatu. Distância aproximada: 140 Kms.


Saindo de Peruibe...







Não demorou muito para que as dores se acentuassem. Observem que até os Sombras estavam cabisbaixos.


Enquanto a topografia ia nos ajudando, pedalando meio em pé ou meio sentados, mesmo sem a ajuda de um bom acostamento, iamos avançando. Havia muito tráfego de caminhões, o que nos obrigava a pedalar num acostamento em terra, capim e cascalho. Isso retardava a velocidade e aumentava o nosso tempo de viagem.
Logo chegamos em Itariri.




Acostamento?! Aonde?


Os bananais apareciam por toda a parte. Até no meio das bananas há sempre uma luz no fim do túnel!




 
A partir deste momento ficamos felizes em ter parado em Peruíbe, mesmo porque nos asseguramos que no dia anterior não teríamos a mínima condição de chegarmos até Pedro de Toledo. A estrada sem acostamento e com muito movimento de caminhões teria se revelado um grande impeditivo.
A partir daqui começavámos a discutir se não estávamos subindo. A estrada parecia plana, mas se parássemos de pedalar a bike parava, logo deduziamos que estávamos subindo, pois no plano a bike continua rolando por um tempo quando paramos de pedalar. Até então, as subidas visíveis a olho nú, não tinham sido grande coisas. Nós as vencíamos, pedalando devagar, mas as venciamos sem descer da bike.
Logo chegamos a Pedro de Toledo. Caramba, devia estar uns 40º graus!!! Bebiamos muita, mas muita água mesmo! Já tinhamos perdido a conta de quantas garrafas grandes de água tínhamos consumido! A transpiração era tão intensa que quando parávamos parecia que estivera chovendo sobre nossas cabeças: ficávamos ensopados!!! 

Chegando em Pedro de Toledo.



Eu havia passado por aqui, em sentido contrário, em julho de 2010, mas não me lembrava da altimetria.
Mas, daqui para a frente começou o grande drama: subidas enormes, uma delas que parecia nunca mais acabar, uma verdadeira Serra!
A Serra serpenteava para cima, como uma imensa cascavel disposta a ferir mortalmente dois incautos cicloturistas. Olhei no ciclocomputador e vi que eu não conseguia passar dos 4,5 Km/h. Parava, bebia imensa quantidade de água, voltava a pedalar e a serra nunca acabava. O Luciano melhor condicionado neste momento, foi abrindo distãncia até que desapareceu numa curva adiante. Eu estava começando a ficar preocupado com a minha condição física: suava em bicas, não conseguia um bom rendimento e só estava ingerindo água. Não levara nenhum isotônico! Sentia meu corpo meio fraco, mas mesmo assim, não desci da bike para empurrar, continuei pedalando serra acima, embora lentamente. Sei lá quanto tempo se passara, o Luciano sumira e, de repente, um Fiesta atravessa na pista á minha frente, as portas se abrem e saem dois sujeitos, um de cada porta dianteira. Em plena serra, numa estrada sem acostamento, dois sujeitos atravessam um carro em minha frente... Assalto! Pensei. Caramba, vou ser assaltado!!! Meu Deus me ajude! Cada um trazia uma lata de cerveja nas mãos e assim que abriram a porta lançaram-nas na pista. Um deles, o que saiu do volante do carro, gritou: O Senhor sabe onde tem um posto de gasolina, por aqui? Eu pedalei contornando o carro enquanto respondia: Desculpe, não sei não! Fui fazendo a curva pedalando sem olhar para trás, quanto ouvia as buzinas dos carros que encontraram aquele Fiesta atravessado na estrada. Os caras estavam visivelmente, ou bêbados, ou drogados, ou as duas coisas!
Naquela hora fiquei revoltado com o Luciano porque sumiu na frente e não me esperou. Ah, ele vai ouvir, ah se vai!

Ah, graças a Deus a serra acabou! Infelizmente minhas forças também!



Veio o imenso descidão. Soltei os freios e salvem-se quem puder! Sentei meio de lado e voei serra abaixo!
Já no final da serra, perguntei numa barraca de frutas pelo Luciano e o sr. que me atendeu disse que ele acabara de passar por alí. Fiquei aliviado, pois eu já estava pensando que ele sumira porque devia ter caído numa ribanceira com bike e tudo.
Logo o encontrei sentado na próxima barraca de fruta e solltei a bronca, enquanto lhe contava o que se havia passado comigo na serra. Ele se desculpou e ficamos de boa.
Ainda bem que naquela barraca de frutas havia apenas um côco gelado. Tomei-o avidamente.
Havia uma bica onde ficamos muito tempo nos refrescando e jogando conversa fora como o proprietário da banca, um senhor muito simpático.


 Refrescando a moleira.


A tarde já ia alta e nós ainda nem havíamos chegado na BR-116. Mas estávamos tão extenuados que nem nos preocupamos com isso. Ficavamos da bica para uma mureta onde estávamos sentados e vice e versa, sem nos preocuparmos com o tempo que avançava impiedosamente, movendo rapidamente as horas para a frente.
Assim que nos despedimos e cruzamos a rodovia para pegar a mão certa, o Luciano grita: Furou pneu! Voltamos para a sombra da banca de frutas para o conserto.
Pneu consertado, um trilhão de bombadas para encher o pneu 2.4 que o nosso amigo usa, saímos para a estrada novamente. 
Mal tinhamos pedalado uns poucos Kms avistamos a BR-116 e o Luciano grita, agora bastante irritado: %$#@&, Pneu furado, #@!%$!!!
Desta vez eu fotografei.

Consertando o pneu, sem camisa sob um sol de rachar mamona! Esse é maluco!




Nossa, o amigo estava tão irritado que tive que intervir para trazê-lo á realidade. O sol estava derretendo os nossos miólos! Embora eu não fizera nenhum comentário, continuava me sentindo estranho e preocupado por estar ingerindo somente água, não obstante havia tomado uma água de côco a pouco tempo atrás, mas eu sabia que era pouco diante da perda que eu sofrera até aquele momento. 
Nós haviamos avistado a placa indicando Posto de Combustível e dali onde estávamos podiamos avistá-lo na BR-116. Era um postão enorme! 

BR-116 (Rodovia Régis Bittencourt)





Pneu consertado, mais dois trilhões de bombadas para encher o 2.4 debaixo de um sol escaldante.
Fomos em direção ao Posto. 15:18 horas, amarramos as bikes na entrada do Posto Miracatu, conversamos com um gerente do posto que nos assegurou que ninguém poria as mãos fedorentas em nossas bikes, assim entramos naquele ambiente que parecia um oásis no deserto tórrido. Ar condicionado, que bálsamo!

 
Corri em busca de um isotônico. Comemos um lanche, tomei o isotônico, estava pensando em tomar outro, foi quando o Luciano me incentivou a fazê-lo, pois ele garantia que eu estava transpirando demais, mesmo estando naquela ambiente gelado e também apresentava uma aparência estranha. Confirmou o que eu não dissera, mas pensara a meu próprio respeito: eu estava desidratando! Tomei mais um isotônico e fique no interior do restaurante até que senti minhas forças voltarem. Havia passado bastante tempo, sei lá quanto!
Saí para a estrada totalmente revigorado. Parecia que eu era outra pessoa.
Fomos embora estrada afora, naquela acostamento generoso, farto, onde a gente podia pedalar lado a lado, conversando numa boa. Precisavamos chegar á SP-222, que nos levaria a Ilha Comprida, nosso próximo destino.


Um dia eu chego lá!...






Epa, SP-222 para Iguape! Lá vamos nós!

Não pensem que as dores das partes baixas haviam passado, não, infelizmente elas estavam lá bem presentes! Mas isso nâo tirava o brilho do nosso passeio. Admiravamos as paisagens, riamos, conversavamos numa boa. Lógico que houve momentos em que pedalamos em absoluto silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos.


Oba, SP-222, lá vamos nós e... não acredito!!! Mal começamos a nos animar e surge uma serra enorme á nossa frente! Subimos 170 Mts em 3 Kms!!! Nossa a serra era interminável. O sol agora estava de frente, queimando os nossos rostos enquanto subiamos lentamente.
Embora não houvesse tráfego de caminhões nesta estrada, graças a Deus, também não havia acostamento.






No final da serra de 5 Km há uma banca de frutas, onde também há uma bica de água potável direto da montanha. Os moradores locais para lá se dirigem com garrafões para pegar água potável. Na banca tomei mais um côco gelado. Agora eu estava inteiro, pronto para encarar as muitas horas de pedal que ainda viriam pela frente. Depois da serra vem um descidão mais íngreme que a serra que subimos. Um verdadeiro paredão, cheio de curvas, onde consegui a marca de 56 Km/h de velocidade máxima. Não toquei nos freios; Lavei a alma.



Aqui cabe uma observação interessante. Eu estava com força total enquanto o Luciano caira bastante de rendimento, exatamente ao contrário da etapa anterior, onde eu estava fraco e ele com garra total.

Pensei que Iguape estaria logo depois dessa placa, mas, ledo engano. Veio a chuva, foi-se a chuva, veio a noite e nada. Farois e lanternas ligados fomos avançando lentamente na noite escura e chuvosa.


Luciano preparando e regulando o farol.




 O Luciano estava com um farol animal! Os carros que vinham em sentido contrário davam sinal de farol para ele, era até interessante. 
Eu estava com um Q-Lite de 8 leds que deu conta plenamente do recado. Como eu estava bem fisicamente, por muito tempo eu puxava o pelotão e me distanciava bastante do Luciano, sem perdê-lo de vista é claro. Nesse momento meu Q-Lite iluminava a estrada tranquilamente, de maneiras que podia imprimir uma cadência boa sem me preocupar com buracos ou outros obstáculos que pudessem me pegar de surpresa. Em determinado momento desliguei o farol só para ver como ficaria e vi que seria impossivel pedalar, pois o breu era total.
Ora eu puxava o pelotão, ora o Luciano e assim as horas foram passando... 18, 19, 20, 21... e nós continuavamos pedalando sem avistar uma única luz  indicando a chegada da cidade.
Passava das 22 horas quando chegamos em Iguape.



A entrada da ponte que liga Iguape a Ilha Comprida.


Nem acreditavamos que havíamos chegado. Agora era atravessar a ponte e chegar até a Ilha. Na cidade, logo que entramos, perguntamos como fariamos para chegar á ponte e um fiscal de trânsito nos orientou como fazê-lo.
Chegamos a Ilha e teríamos que chegar a Av. Beira Mar, onde eu havia contado um Camping, mas cansados como estávamos e devida a hora avançada, não tinhamos condições de sair a procura de Camping , pois eram 22:40 hrs. quando chegamos na Ilha. Estavamos exautos!

Chegamos até a Av. Beira Mar, mas voltamos para a Av. São Paulo, onde haviamos avistado um Apart Hotel e ao lado uma barraca de pastel em plena atividade. Fui até o Apart Hotel e conversei com o gerente, uma pessoa super finíssima. Choramos e acertamos com ele um bom desconto. Ótimo, já tinhamos onde encostar o esqueleto. Guardamos as bikes, subimos para o banho e logo retornamos para a pastelaria. Aliás, diga-se de passagem pastéis deliciosos regados a uma cervejinha bem gelada. Nós mereciamos, pois haviamos pedalados nada mais nada menos que 141:660 Km  desde a saida de Peruíbe! Tudo isso em estrada sem acostamento, com chuva e boa parte foi feito sob um breu danado! Foi Show!


O Apart Hotel muito bom, limpo e aconchegante. Um quarto grande com dois beliches e uma cama de casal, seguido de uma cozinha com tudo, fogão, geladeira, utensílios domésticos, etc. O atendimento nota 10!
Voltamos para o hotel, mal cai na cama e o sono veio profundo! Sonhei que tinha um sofá no lugar do selim, na bike, ah, ah, ah!!!


3º Dia.


Segunda feira, 24/01/2011.
O sol já ia alto quando acordei. Passava das 9 horas da manhã! Devido aos problemas com os selins, acordamos que o nosso ciclotur terminaria ali em Ilha Comprida. Iriamos comprar as passagens de volta para São Paulo e curtir uma praia até a hora de embarcarmos.
Assim, tomamos café e fomos para a Rodoviaria comprar as passagens para aquela tarde. Quase não encontramos mais lugares no ônibus das 17 horas! Passagens compradas nosso destino agora era a praia de Ilha Comprida.


Olha só a cara de tristeza do Antigão.



Av. Beira Mar.


Av. São Paulo.



Que diferença, né!





Bikes na areia do mar.



Praias semi-desertas, só nossas!




Bikes na água do mar de Ilha Comprida!




Depois de um almoço caprichado, regado a miojo com linguiça mista defumada, pão e coca-cola...




Adiós, amigos. Até a próxima!




Passava das 21 horas quando desembarcamos no Terminal Rodoviário de Barra Funda, onde nos despedimos. A esposa do Luciano iria pegá-lo de carro nas proximidades e eu embarquei no Metrô, com destino a Estação Carrão. Lá a minha esposa também me esperava.
As 22:43 adentrei por aquele portão que eu fechara dois dias antes.
Em resumo o passeio foi realmente uma verdadeira aventura, cheia de altos e baixos, como soi acontecer em todas as aventuras. É isso que me fascina no cicloturismo; esses lances não programados; esses momentos que exigem de nós um pouco de garra e determinação.
Juntos vencemos mais essa. Obrigado parceiro! Já estou pronto para outra!


Agradeço a Deus por ter me permitido fazer mais esse passeio e poder compartilhá-lo com todos vocês que nos lêem e prestigiam.


Ciclotur altamente recomendado.


Total pedalado: 246:66 Km.
(105 Km no primeiro dia e 141 Km no segundo dia)
Média geral: 14,4 Km/h.
Velocidade máxima: 56 Km/h
Um raio quebrado bike do Luciano.
Três pneus furados bike do Luciano.
Câmbio traseiro desregulado bike Antigão.


No mais.... Só Alegria!!!

Até a próxima!