quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pedalando com o Antigão - Vídeo.

Em outubro/novembro de 2012 fiz uma cicloviagem para o SUL visando a Ilha do Mél, no Paraná. 
(Para ver o relato clique AQUI.)
Nesse pedal tive como companheiro o cicloturista e amigo Valmir Kiss, do Casal Pedal, residente em Cananeia, SP. Esse companheiro, além de me ajudar sobremaneira na logística da minha cicloviagem para o Paraná, fez um vídeo muito interessante do nosso pedal. Vale a pena dar uma olhada.





Para visualizar mais relatos, fotos e vídeos do Casal Pedal (Valmir Kiss e Alcione Fernandes) clique AQUI.

Grande abraço do...



domingo, 10 de fevereiro de 2013

Mentika de cara nova!

Olá, pessoal,

Quem leu o meu relato da cicloviagem de janeiro próximo deve ter observado que reclamei bastante da bike, que estava roubando energia.


A bike estava pesada nos dois sentidos:

1) Pesada no peso em si. Sei lá quantos Kg, mas ao desembarcá-la do guincho até o Marcos Netto comentou sobre o peso da bike.

2) Pesada no pedalar. As rodas presas, não girando livremente. Depois da viagem, quando levei a bike para a revisão, notamos que o suporte do freio a disco traseiro estava solto. Isso fazia com que a pinça se deslocasse e forçava a pastilha contra o disco, freiando a bike aleatoriamente. Cicloviajar assim é impraticável.

A bike estava com uma suspensão RST Gila, de 100 mm, aros 26" com uns pneus Kenda 26 X 1,50 que eu achava muito pesados. Eu os colocara dias antes da cicloviagem, pensando em descer a Estrada da Petrobrás, que vai de Salesópolis a Caraguatatuba, cortando a Serra do Mar.

A suspensão e a configuração com rodas 26" eu havia instalado logo que recomecei a pedalar, depois de sofrer quatro cirurgias de coluna lombar. A idéia era transmitir a menor vibração possível á coluna, recentemente operada.

(Clique na imagem para ampliar)



Eu já tinha as rodas 700c guardadas, um jogo de freios a disco mecânicos, da marca Bengal, com rotores de 203 mm e até um jogo de manetes alívio sem uso. Também tinha guardado o meu garfo rígido de alumínio, que aceita rodas 700 (quase um garfo para 29er).

Assim, falei com o Paulo e resolvemos proceder as mudanças: voltar a pedalar com rodas 700 e garfo rígido.


Desmontados a bike e eu a levei para ressoldar o adaptador para freio a disco. Estava apenas "ponteado". Agora o Eduardo, soldador, fez uns cordões de solda, com vareta de latão. Ficou muito bom e super firme.

Na volta da oficina de solda, pintei as pontas dos stays de preto fosco, para não ter que pintar todo o quadro novamente. O efeito ficou muito bom.


Então o Paulo, mecânico, passou a remontagem da bike, que ficou com uma configuração bem diferente do que era.

Antes...


Depois...




Saiu a suspensão RST Gila e entrou o garfo rígido. 


Sairam as rodas 26" Vzan Extreme e entraram as rodas 700c, com pneus Kenda 700 X 38, já com fitas anti-furo importadas. Os cubos Quando estão novinhos.
Saiu também os freios Tektro Gemini, hidráulicos, rotores de 160 mm e entraram os freios a disco mecânicos da Bengal, com rotores de 203 mm. Fiz essa troca porque as pastilhas da Tektro são mais difíceis de serem encontradas e bem mais caras. No que tange á capacidade de frenagem e o acionamento dos manetes, ficou tudo muito macio e eficaz.

Hoje fiz um pedalzinho de 35 Km no Parque do Carmo, saindo e chegando em casa pedalando. Foi show! Deu para perceber nitidamente a leveza da bike nos dois sentidos que comentei logo no início deste relato.

O pedalar ficou livre e solto. As rodas 700 ajudam a compensar as trepidações que podiam serem absorvidas pela suspensão, porém tornando a bike muito mais leve.
Rodei também em estradas de terra para sentir a bike: perfeita!



Os pneus Kenda "agarram" bem na terra, sem comprometer a rolagem no asfalto.





Enfim, para cicloturismo acredito que as rodas grandes 700 ou 29" são mais confortáveis e mais leves para pedalar.

Finalmente coloquei um bagageiro "home-made" que eu já tinha guardado. Apenas vou reforçá-lo, soldando mais alguns ferrinhos, deixando-o bem parecido com um Wencun. Para ver como fazer, clique AQUI.




Por ora é isso.


Um grande cicloabraço do ...



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Conexão TV - Falando sobre bicicletas.

Nestes três vídeos vocês verão uma entrevista com o Klaus, cicloturista, que fabrica bicicletas de bambu e uma entrevista muito bacana, com a brilhante participação do cicloturista Marcos Netto, grande amigo e parceiro.

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Marcos Netto.


Então, vamos aos vídeos.





E então, gostaram? Podem comentar á vontade.

Grande cicloabraço do...


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Na primeira cicloviagem do ano... carregando o sol na garupa!

Esta cicloviagem saiu de Salesópolis, Cidade nascente do Rio Tietê, tendo como destino o Parque Nacional de Itatiaia. Seis cicloviajantes super entusiasmados pretendendo chegar ao aludido destino, passando pela Estrada da Petrobrás (Também conhecida como Rodovia do Sol), um caminho almejado por todos os cicloturistas paulistas, chegando á Cidade de Caraguatatuba, no Litoral Norte paulista. Daí seguir pela BR 101, conhecida nesse trecho como Rodovia Rio-Santos, até Paraty, já no Rio de Janeiro. De Paraty, RJ seguir até Campos de Cunha e então chegar ao Parque Nacional do Itatiaia, SP.


  • 1) 06/01, Domingo - Salesópolis - Caraguatatuba 77km - Terra
  • 2) 07/01, Segunda - Caraguatatuba - Paraty 125km - Asfalto
  • 3) 08/01, Terça - Paraty - Campos de Cunha 73km - Misto, maioria asfalto
  • 4) 09/01, Quarta - Campos de Cunha - Queluz 62km - Terra
  • 5) 10/01, Quinta - Queluz - Parque Nacional de Itatiaia 44km - Misto, maioria terra.

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Mas... como será que essa cicloviagem aconteceu?




Quando a gente comenta certos fatos após os acontecimentos eles não parecem tão reais como deveriam. Na semana que antecedeu a nossa cicloviagem alguma coisa me dizia para não ir. Eu mesmo não acreditava naquela sensação estranha, atípica, haja vista o meu prazer pelo cicloturismo. Cheguei até a pensar, "Tá bão, não vou e o que vou dizer para o pessoal?  Que estou com uma sensação estranha?" Ora se eu dissesse isso estragaria o pedal de todos os participantes! Mas vencida essa sensação eu disse para mim mesmo: Irei! Seja o que Deus quiser!

Sábado, dia 05/01/2013, acordei cedo sentindo aquela sensação estranha que costuma acometer os cicloturistas, pouco antes de sair para uma nova cicloviagem. Um misto de entusiasmo e "frio na barriga". Foram muitos meses de planejamento, pois tudo começara em meados de agosto de 2012, quando o amigo e biker Alessandro começou a planejar o ciclopasseio. Com todas as reservas de pousadas feitas e pagas antecipadamente agora só nos restava pegar as bikes carregadas e cair na estrada.
O encontro de todos estava marcado para o dia 06, na Cidade de Salesópolis, contudo o Tácio, Marcelo, Wagner e eu iríamos de trem (CPTM) no dia 05. Finalmente o Alessandro e o Marcos também foram no dia 05, mas de carro. Assim, ficou acordado que nos encontraríamos em Salesópolis para o jantar e sairíamos no dia 06 bem cedido.

Por volta das 12:30 saí de casa em direção a Estação Brás da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) onde ficara de encontrar os amigos Tácio, Marcelo e Wagner.


Mentika na porta da Estação Ferroviária do Brás.




Cheguei rapidinho ao ponto de encontro. Não estava com muito peso, apenas 9,900 Kg de peso, incluindo alforge, mas notei que a minha bike estava "roubando". Dizemos isso quando as rodas não estão girando livremente, dando a impressão que os freios estão pegando mesmo sem estar pressionados para isso. Isso não é nada bom, haja vista que pedalar "freado" torna o equipamento muito mais pesado. Mas como eu usara pouco a bike ultimamente, não havia notado e agora não havia muito o que fazer já que chegara o dia da viagem.

Logo surgiram os companheiros, os quais eu ainda não conhecia pessoalmente.





Marcelo Perine.



Tácio Philip




Wagner Ribeiro.




Antigão.



Após as apresentações, tratamos de pegar o trem. Mas, infelizmente os trens estavam circulando com velocidade reduzida, por problemas técnicos, portanto foi difícil de embarcarmos. Embarcamos em dupla e nos encontramos na Estação Guaianazes, onde há uma baldeação. Lá, mesmo com um pouco de dificuldade, conseguimos embarcar os quatro para a Estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, SP.

Dá Estação Estudantes até o nosso destino, Salesópolis, são 44 Km de pedal. Um trecho sem muitas subidas relevantes. Mesmo assim, chegamos já no finzinho da tarde, haja vista os problemas com os trens da CPTM., o que nos atrasou bastante.
Nesse trecho notei que os companheiros Tácio e Wagner pedalavam forte e sumiram na frente. Ficamos o Marcelo e eu pedalando no meu ritmo, que é bem mais lento.




Ao chegarmos em Salesópolis o Wagner seguiu para uma Pousada na Cidade, enquanto o Marcelo, o Tácio e eu ficamos no Camping do Portal. O Camping do Portal, embora esteja atendendo o pessoal, ainda não está totalmente estruturado, possuindo apenas um banheiro para atender a demanda. Contudo, tudo é muito limpo e arejado, a Dna. Ruth, proprietária do Camping é uma pessoa formidável, sem contar o visual que é muito belo. Como não levamos barracas, ou quaisquer utensílios para acampamento, optamos por alugar as barracas, o que nos poupou o trabalho de montagem e desmontagem das mesmas.











Como o Alessandro e o Marcos seguiram de carro para uma pousada na Cidade, acordamos em jantarmos todos juntos em uma pizzaria.

No jantar, depois de discutirmos sobre as últimas chuvas dos dias anteriores, concordamos em não descermos pela Estrada da Petrobras, pois o Alessandro se informara com  munícipes e bikers locais e soube que devido as chuvas o caminho estava impróprio para bikes de cicloturismo, principalmente porque iríamos seguir viagem por mais vários Km de asfalto, até Itatiaia.. Assim, ficou acertado que faríamos o caminho descendo pela Rodovia dos Tamoios, até a praia de Tabatinga em Caraguatatuba, onde ficaríamos numa pousada já contatada e reservada para esse fim.

Observem que a altimetria do novo caminho escolhido não é dos mais salutares, mas, até aquele momento isso não se constituía em um novo problema.



Naquela noite, jantamos, rimos á vontade e não fomos dormir muito tarde. Combinamos um encontro na manhã seguinte por volta das 06 horas, para tomarmos café em uma padaria do centro e sairmos para o primeiro dia de pedal com todos os participantes.
Naquela manhã acordei ás 5 horas, confesso, com uma vontade danada de ficar mais algumas horas deitado. Mas o pedal me chamava, assim pulei de uma vez e tratei de ajeitar tudo para a saída. Ajeitamos tudo e saímos ao encontro dos demais companheiros.
Após o café, visando aliviar um pouco a frenagem gratuita da bike, aliviei um pouco as pastilhas do freio, mas mesmo assim o freio traseiro principalmente ficou pegando. No freio Tektro Gemini com uma chave Allen é possível regular a distância entre as pastilhas e o disco.
Tomamos e café na padaria e saímos para encarar a estrada até Caraguatatuba. Na padaria ainda tivemos o prazer de conhecer o balconista / biker, que reafirmou estarem impróprias as condições da Estrada da Petrobras para uma eventual descida nossa.

Para mim este trajeto até o trevo da Tamoios, ou mesmo até Caraguatatuba não era nada novo, pois eu já o fizera em duas ocasiões anteriores. Sabia das boas subidas, portanto fui reservado para não me desgastar tanto.






O Gaúcho Marcos Netto aponta a placa indicando a Nascente do Rio Tietê.




Marcos Netto e Marcelo Perine á frente.




O Bairro do Cedro indica o fim das subidas, Graças a Deus!






Não me lembro de quantos Km havíamos pedalado e eu comecei e me sentir mal. O calor estava insuportável. Eu bebia muita água e água com isotônico, contudo a sensação de mal estar estava pouco a pouco me detonando. Sentia fraqueza, a cabeça zonza, as vistas turvas, até que em determinado momento tive que parar de vez. O pessoal foi muito bacana e compreensivo comigo, aguardando ao meu lado até que eu me recuperasse. Bom, na realidade não me recuperei 100%, mas melhorei e continuamos o pedal. Sabia que depois do trevo viriam os trechos mais amenos de estrada, já na Rodovia dos Tamoios, depois a longa descida de serra, enfim trechos menos puxados. E assim foi.
Logo atingimos a Rodovia dos Tamoios e pouco depois a descida da Serra.

Infelizmente o tempo estava fechado na Serra e as belas e tradicionais fotos não foram possíveis. Houvemos até por bem colocarmos as capas nos alforges, pois a administração da rodovia indicava chuva na serra.




Marcos Netto "estreando" a Serra da Tamoios, já no Município de Caraguatatuba, SP.



O Alessandro, Tácio e Marcelo desceram na frente e desapareceram serra abaixo. Eu fiquei logo atrás do Marcos Netto e o Wagner atrás de mim. Assim, nessa formação demos início á descida da longa serra.

Curva fechada á direita, curva fechada á esquerda e lá vamos nós recebendo como prêmio a gostosa dose de adrenalina e o vento acariciando os nossos rostos.
Uma curva á esquerda, vejo o Marcos olhando para trás rapidamente, a roda dianteira de sua bike balança estranhamente, pega uma pequena depressão no sentido longitudinal e vai ele para o chão raspando o capacete na lateral de concreto da pista. Em questão de segundos, enquanto eu pressiono os freios a disco, meu pensamento diz: Ah, se ele não estivesse de capacete! Com certeza teria deixado um pedaço do crânio naquela lateral de concreto! Parei e vi um misto de homem e bike enrolados, enquanto alguns ralados já demonstravam sangramento. Encostei a bike rapidamente e fui em seu socorro enquanto o Wagner também chegava para prestar ajuda. Conseguimos desenrolar o homem da bike com cuidado, pois não sabíamos se havia alguma fratura ou coisa pior. Graças ao Papai do Céu o Marcos estava bem. Salvo os ralados, que lavamos imediatamente com água, não havia nada mais grave. Ao olharmos para o capacete ficou constatado que faltava um pedaço e o mesmo estava afundado. Ou seja, aquilo que eu pensara em fração de segundos se confirmara! Obrigado Deus, por mais esse livramento!
A bike também não sofrera nenhuma lesão. Assim, continuamos a descida, eu sempre atrás do Marcos, de olho para ver se ele estava bem.
Não comentei nada com o Marcos naquele momento, mas pensei comigo quão importante é o uso de um espelho retrovisor. Nesse caso não haveria necessidade de ficar olhando para trás, o que certamente o levou á queda. Sempre uso um espelho retrovisor. Detesto virar a cabeça para olhar para trás, nem que seja por poucos segundos.

Chegamos em Caraguatatuba! Eu havia proposto ao pessoal pararmos no trevo para almoçarmos num restaurante que eu já conhecia, mas fui voto vencido. Paramos numa farmácia  onde o Marcos entrou para comprar algumas ataduras e outros materiais para fazer os curativos. Faltavam ainda 20 Km para chegarmos na Praia de Tabatinga, assim continuamos o pedal.

Atravessamos a Cidade e logo eu percebi que voltava a me sentir mal novamente. Logo que saímos do centro de Caraguá, debaixo de um sol tórrido a zonzeira na cabeça recomeçou. Chegamos numa subida longa e á medida que eu ia subindo ia ficando cada vez pior. Desci e comecei a empurrar a bike, pois assim eu poderia fazer o guidão de apoio, impedindo-me de cair se tudo escurecesse de repente. O Wagner, vendo que eu estava mal e sem comer até aquela hora, me ofereceu um sachê de carboidrato. Engoli o conteúdo e bebi um bom gole d'água.  Ás duras penas cheguei a uma barraca de côco verde e sentei-me num banco improvisado. Encostei num tronco e por ali fiquei enquanto meu rosto fervia parecendo uma fornalha ardente e o cérebro insistia em apagar. O proprietário da barraca e seu ajudante logo perceberam que eu estava mal e ficaram por perto. Tomei um côco gelado, outro côco gelado, água gelada e fui melhorando aos poucos. Nada comentei com os companheiros, mas enquanto aquela sensação de torpor tomava conta do meu corpo eu pensava naquilo que sentira dias antes de viajarmos: a estranha sensação de "não vá!"
Ficamos muito tempo parados. Eu estava disposto a ficar ali até que me sentisse melhor, bem melhor. Não queria estragar o passeio dos companheiros e se necessário fosse abortaria o passeio ali mesmo.
Nesse momento a gente lembra da esposa, pelo menos a minha, que sempre diz: "Se sentir mal ou acontecer alguma coisa, volte imediatamente!" Nossa que coisa horrível é querer deitar e não ter onde! Mas acho que se deitasse seria pior, pois poderia vir a desmaiar e...

Enquanto isso o céu foi escurecendo, os trovões e relâmpagos distantes foram chegando mais perto e... um pé d'água desabou do céu!
Ficamos ali  o Wagner, o Marcelo e eu esperando que a trovoada amenizasse para seguir viagem, pois eu já estava melhor. A chuva ainda não passara totalmente e o Marcelo resolveu seguir adiante, pois o Marcos, Alessandro e Tácio há muito já haviam se mandado.
O Wagner, grande companheiro, ficou ali comigo até a chuva passar. Assim que a chuva passou, saímos pedalando os 15 Km que faltavam para chegar á Tabatinga.
Até estranhei, pois pedalei muito bem esses 15 Km e cheguei muito bem á Pousada. Até agora não sei exatamente o que me aconteceu naquele fatídico dia. Acredito que o sol causticante aliado á falta de alimentação adequada foram os causadores de ambos os momentos de mal estar. Lógico que eu estava um pouco cansado, mas não a ponto de sentir tonturas ou coisa que o valha. Ademais eu já fizera aquele mesmo caminho em outras ocasiões e nada me ocorrera. Porém, havemos de convir que eu pedalo mais maneiro, minha meta é sempre o cicloturismo e não o "preciso chegar de qualquer jeito!" Nas minhas cicloviagens paro para descansar, tirar fotografias, pedalo de dia e de noite se necessário, mas sempre de boa. Não tenho o hábito de pedalar forte.

Chegamos em Tabatinga.

Nessa noite jantamos pizza novamente e também fomos dormir cedo.

No dia seguinte todos queríamos sair cedo, pois sabíamos de antemão o que o sol tórrido daqueles dias poderia nos causar. Eu tinha deixado a bike do lado de fora do quarto da pousada, presa á um cadeado.

Seis horas da manhã, todos prontos para a largada e eu não achava a chave do cadeado. Todos estavam empenhados em encontrar aquela "bendita" chave, mas quanto mais a procurávamos mais ela se escondia. Olhei no relógio: 06:39 h.
Após procurar em vão por uma hora, concordamos que o pessoal iria embora na frente, enquanto eu ficaria para achar uma oficina onde pudesse romper o cadeado.
O pessoal foi, mas logo voltaram com um alicate de corte tamanho monstro que eles conseguiram numa loja de ferragens que estranhamente estava aberta aquela hora da manhã. Cadeado cortado, recomeçamos a cicloviagem. Agora o destino era Paraty, já no Estado do Rio de Janeiro.










Logo que saímos do centro de Ubatuba, resolvi mudar o meu perfil. Iria pedalar no "meu" ritmo, não importando se eu chegasse com algumas horas de atraso em relação aos companheiros, pois eu conhecia bem o trecho e sabia das longas subidas. Não são subidas íngremes, mas são longas sempre contando mais de 3 Km. E assim o fiz. O Marcelo, que já estava sentindo o longo contato com o selim lhe prejudicar as partes "baixas", resolveu ir no meu ritmo, me acompanhando.


Marcos Netto e Marcelo sorrindo para a vida.



No caminho encontramos esse cicloturista carregando a bandeira do Brasil. Roberto Campini, Paraibano. O homem já viajou milhares de Km de bicicleta, praticamente cruzando o país inteiro. Parabéns ao amigo!



Cheguei ao alto da Serra da Bica D'água potável, ainda em Ubatuba e lá estava o Marcos arrumando a bike do Wagner que soltara o parafuso que prende o bagageiro. Parece que o parafuso espanou a rosca. A fita de alta fusão fez um trabalho quase perfeito.




Esse belo visual que encanta os cicloturistas.








Parada no final de Ubatuba para o tradicional côco gelado.



Eu estava pedalando numa boa. Estava próximo das 11 h da manhã, o sol estava escaldante, mas eu não estava sentindo nenhum mal estar ou coisa que o valha. Ia no meu ritmo tranquilo e sossegado, sem forçar a barra, afinal estou próximo dos 63 anos e, parece que não, isso é um belo "peso" nos alforges da vida!
Faltavam 37 Km para a divisa do Rio de Janeiro, quando termino uma descida e ao fazer uma curva á direita, vejo o Alessandro acenando para que eu parasse e chegasse no restaurante. Caramba, pararam para almoçar tão cedo, pensei!
Não, não se tratava de "horário de almoço". O Marcos Netto, devido aos seus ralados profundos e o sol escaldante se negava a continuar pedalando. Ele queria esperar que o sol baixasse para continuar. Ocorre que o sol estava tão forte - sensação térmica de mais de 45º C - que metade das nossas forças se evaporavam nas subidas longas. Eu como vinha devagar e disposto a subir empurrando a bike nas serrinhas intermináveis... com 4 caramanholas cheias de água ia molhando cabeça, boné, capacete, camiseta e quando chegava no topo da subida já estava tudo sequinho novamente.

Bom, conversa vai, conversa vem, ficou acordado que os quatro iriam pedalando mesmo que vagarosamente e eu ficaria com o Marcos aguardando um socorro, que eles poderiam providenciar quando chegassem em Paraty. Bom, se faltavam 37 Km para a divisa, haveria mais 23 da divisa até a cidade. Então faltavam 60 Km de pedal para todos.
Os quatro mosqueteiros comeram um lanche frio e saíram pedalando. Só essa primeira subida tem mais de 5 Km!
O Marcos e eu ficamos por ali tentando arrumar uma carona, mas em face da dificuldade em fazê-lo resolvemos almoçar numa boa. Comemos um belo filé de peixe, tomamos bastante refrigerante e esperamos as horas passarem.
Passadas algumas horas convenci o Marcos a seguirmos viagem devagar, empurrando nas subidas longas e pedalando pelo acostamento da contra-mão, pois já havia alguma sombra deste lado da pista.  Não importa que chegássemos á noite em Paraty. O importante era que só havia 37 Km de subidas, pois da divisa em diante é um descidão só. Uma vez que ele concordou, saímos de boa.

E lá fomos nós vencendo a primeira subida: mais de 5 Km empurrando bike serra acima. Sorte a nossa que além de algumas sombras, há muitas bicas d'água nesse trecho, assim íamos molhando as camisas e subindo mais refrescados. O problema, como já disse, era que ao chegar no topo já estávamos secos novamente.


Marcos molhando a camisa na bica. Dá para sentir o subidão interminável.





Já havíamos pedalado/empurrado uns 10 Km, quando chegamos numa descida. O Marcos ia na frente e assim que ele fez uma curva á esquerda, escutei um forte estalo e pum! Caí sentado no bagageiro enquanto as peças do carrinho do selim, mais o próprio rolavam pelo acostamento! Balancei para um lado e para o outro, consegui equilibrar a bike e freei. Ufa, foi por pouco!
Voltei subida acima para procurar as peças e ver o que acontecera. Primeiro resgatei o meu Brooks, depois as partes do carrinho, original da Trek. A única peça não original se partira: o parafuso Allen que prende o conjunto! Que droga!
Sentei no cano da bike e terminei de descer a serra. O Marcos me esperava sentado e preocupado, já pensando em voltar serra acima.
Lá fomos nós dar um jeito para poder pedalar novamente, ainda que sem forçar muito o conjunto. Meia dúzia de presilhas de nylon "enforca-gato", um monte de fita de alta fusão e um cabo de aço de câmbio traseiro completaram a bela e "perfeita" gambiarra. Se iria chegar até o destino só Deus sabia. Mas precisávamos continuar. Fui testando a gambiarra, sem forçar muito, mas aquela altura do campeonato pedalar em pé era impraticável. Assim logo sentei no banco totalmente e embora tenha afrouxado um pouco, acreditava que se eu levantasse e ficasse só nos pedais nos buracos ou lombadas daria para seguir numa boa.

Mais alguns Kms pedalados e chegamos a uma paisagem digna de fotografia. Era um alto com uma visão linda para o mar á nossa direita. Preparávamos as máquinas quando o Marcos deu um grito que até me assustou:
- Antigão, olha a nossa carona!!!
Voltei a minha cabeça para a pista e vi um Caminhão guincho freando do outro lado da pista, sentido Paraty. Enquanto o Marcos acenava os braços freneticamente.
O caminhão parou no acostamento, deu ré e veio em nossa direção.
Largamos as bikes e saímos correndo que nem crianças em direção ao caminhão, do outro lado da pista.
O Marcos perguntou se ele poderia nos dar uma carona. Ele perguntou para onde íamos e nós dissemos   Paraty. Ora ele ia para Angra dos Reis, portanto passaria em Paraty.
Imediatamente pediu que colocássemos as bikes sobre o caminhão, prendeu-as com as fitas e travas de prender os automóveis, subimos na boléia e fomos embora, sorrindo, felizes como gatos de restaurante.

O caminhão voava na estrada e logo chegamos em Paraty, RJ. Pedimos para ficar no Portal e fomos atendidos. O motorista um sujeito muito bacana e simpático, embora não fosse de muita prosa.
Assim que descemos tentamos dar-lhe um "cafezinho" mas ele se recusou a pegar. Disse que o fez de coração e que jamais pegaria qualquer importância nossa. Agradecemos e saímos pedalando em direção ao centro da Cidade.


Marcos Netto no portal de Paraty, RJ.



Enquanto vínhamos na estrada eu já estava decidido a abortar a viagem em Paraty. Muitos fatos haviam ocorrido comigo desde a nossa saída de Salesópolis, os quais me faziam acreditar que a melhor maneira de não atrapalhar os demais era eu ficar por aqui, pegar um busão e ir para casa.
Continuar seria encarar mais 20 Km de paredão para Cunha, SP e eu não estava certo se estava disposto a fazer isso. Não, eu não estava! Teria que arrumar o selim, que estava todo amarrado e isso também me aborrecia. O quadro Trek tem um canote com medida especial e isso já dificulta um pouco as coisas.

Bom, Paraty é uma Cidade muito agradável. O Centro Histórico estava abarrotado de turistas, brasileiros, argentinos e muitas outras nacionalidades.
Ficamos numa pousada no Centro Histórico a Estalagem Colonial. Um casarão construído no século 18, que mantém a maior parte de sua estrutura como na data da construção. Gostei da pousada e do tratamento que nos dispensaram. Com  certeza ficaria lá de novo em outras ocasiões.















Passeamos ainda á tarde e á noite, fomos á praia do Pontal, tomamos umas geladas e foi só alegria.

Na manhã seguinte anunciei ao pessoal a minha decisão: A cicloviagem para mim acabaria ali. Minha decisão era irrevogável. Dali eu pegaria um ônibus e iria para São Paulo.
Bom, alguns companheiros seguiram o meu exemplo. O Marcos estava todo ralado, o Marcelo com problemas nas partes baixas devido ao longo tempo passado sobre o selim e o Alessandro resolveu ficar também. O Tácio e o Wagner resolveram contiunar a cicloviagem e assim nos separamos.
Interessante, a gente nunca sabe porque certas coisas nos acontecem. Creio que todos ficaram tristes, uns por desistirem e outros por terem ficado sozinhos. Mas, vejamos o que aconteceu depois disso.


Algumas fotos de Paraty.

























Assim que o Tácio e o Wagner sairam para a estrada, nos restantes fomos para a Praia do Pontal comer alguma coisa e tomar uma gelada.



O Marcos, o Marcelo e eu tomamos cerveja normal e o Alessandro uma latinha de Malzbier. Pedimos uma porção de iscas de peixe e outra porção de camarões. Uma delícia!
A tarde o Alessandro começou a reclamar de dores estomacais. Aí desenrolou-se algo que eu nunca tinha visto: Uma crise de intoxicação alimentar! Meu deus, eu nunca pensei que isso fosse tão feio! Parecia que o Alê iria morrer - Deus que me perdoe - mas fiquei hiper, super, mega preocupado!
Pegamos um taxi e o levamos para o PS local. Conclusão, voltamos para a Pousada com ele caminhando nas pedras, passava das 3h da manhã, depois de injeções na veia, glúteo e soro.

Aproveito o ensejo para agradecer as Enfermeiras de plantão, a Sra. Médica que nos atendeu prontamente, enfim todo o pessoal do Pronto Socorro que foi muito bacana e simpático conosco.
Fizemos até novas amizades no Pronto Socorro.

Apesar dos pesares, tudo estava nos conformes... estava? Acho que não. Agora o problema se resumia em como comprar uma passagem de ônibus para São Paulo. Simplesmente não havia. Tudo lotado. Com muito custo o Marcelo e eu conseguimos uma passagem para ás 23h10m da quinta-feira seguinte.

O Alessandro e o Marcos foram resgatados de carro, pela esposa do Alê, mas nós amargamos mais um dia na pousada. Pior que choveu para mais de metro! Aliás, nos dias em que ficamos em Paraty, mais choveu do fez sol.





A dura vida de um cicloturista gaúcho em terras estranhas.



Nós e as bikes diferentes.







Paraty á noite.





A equipe de cicloviajantes:

Da esq. para a dir. Perine, Marcos Netto, Wagner, Alessandro e Tácio.




No dia da nossa viagem de volta para São Paulo, quando o Marcos e Alessandro já estavam em casa, soubemos que o Tácio também passara mal nas proximidades de Cunha. Tomou um outro rumo, pegou uma carona até uma cidade onde pôde pegar um ônibus para São Paulo.

Pegamos o ônibus da Reunidas da Rodoviária de Paraty por volta da meia noite. Os ônibus estavam atrasando, pois havia queda de barreiras na estrada que liga Paraty a Angra dos Reis. O Perine teve que se desdobrar ajeitando as bagagens alheias para que sobrasse espaço para as nossas magrelas, no interior do bagageiro do ônibus.

Na Rodovia dos Tamoios, por ocasião de obras de duplicação, ficamos parados das 3h30m até as 5h, quando a estrada foi reaberta. Chegamos no Terminal Rodoviário do Tietê por volta das 7h30m. Graças a Deus, o sogro e a esposa do Perine foram buscá-lo e me ofereceram uma carona até em casa, na Zona Leste.

Coloquei a bike no quartinho e não toquei mais nela. Nesta semana fui levá-la para a revisão e veio a triste constatação: a solda do suporte do adaptador traseiro, que segura a pinça do freio a disco, estava quebrada. Se eu tentasse ir com os rapazes para Cunha eu com certeza teria voltado empurrando a bike. Ou seja, abortei a viagem no momento certo!

Mas a vida é assim mesmo. Há tempo para todos os propósitos. Tempo para cicloviajar e tempo para ficar parado. O importante é compreender os sinais que nos cercam e que até nos acenam espiritualmente para uma decisão que ás vezes insistimos em não tomar de imediato.
Cicloviagens são aventuras e como tal podem ter desfechos diferentes do que projetamos. Aí é que reside parte da emoção de ser um cicloturista.

Primeiramente agradeço a Deus por ter me permitido mais essa cicloviagem e poder compartilhar as fotos e este simples relato com todos(as) que nos seguem neste Blog.

Agradeço sobremaneira aos companheiros Tácio, Wagner, Alessandro, Perine e Marcos pela paciência que tiveram comigo e pela agradável companhia. Outros pedais virão, se Deus quiser!

Fica aqui o caloroso cicloabraço do ...


Antigão.


Nota, acrescentada em 01/03;2015: No mês de julho daquele mesmo ano foi constatado, mediante exames médicos, que uma de minhas veias do coração estava entupida. Fiz o cateterismo que comprovou o triste fato e, como poderia sofrer um infarto a qualquer instante, no mesmo Hospital São Paulo, fiz uma angioplastia. Graças a Deus não infartei na estrada!