quarta-feira, 29 de junho de 2011

Dando a volta por cima - Ilhabela via Salesópolis-SP - 1º Dia.

Olá, pessoal!

"Ói nóis aqui traveis!"

Como diz o título desta matéria - Dando a volta por cima - há um duplo significado nessas palavras.
Como muitos estão sabendo fiquei mais de dois meses sem pedalar. Fui acometido por uma crise de hérnias de disco, tanto cervicais quanto lombares, a qual me impediu de chegar perto de bicicletas.
Foram muitas visitas aos PS de Hospitais, várias caixas de comprimidos e injeções, sem contar as 21 sessões de fisioterapia. Mas, agora tudo isso é passado, graças ao bom e misericordioso Deus!
Assim, tão logo eu fiquei bom, a idéia de um novo ciclotur foi se formando em minha cabeça: Eu precisava dar a volta por cima! Sim, dar a "volta por cima", pois eu já estivera em Ilhabela-SP por duas vezes, mas o fiz pedalando "por baixo", pela Rio-Santos, descendo a serra pela Rodovia Mogi-Bertioga. Agora eu queria dar a volta por cima, descendo pela Rodovia dos Tamoios, via Salesópolis.
Tempos antes de eu adoecer eu lera um tópico no Fórum Pedal de cicloturismo onde o amigo forista Rdias comentava sobre a Rodovia SP-088, que liga Mogi das Cruzes á Rodovia dos Tamoios, dizendo que a mesma fora totalmente recuperada e estava uma delícia para um pedal.


Assim nasceu o projeto de chegar a Ilhabela, litoral norte de São Paulo, saindo de Mogi das Cruzes, com pernoite em Paraibuna. Embora isso me custasse acrescentar 36 Km a mais no passeio, haja vista que a SP-088 sai no Km 55 da Rodovia dos Tamoios, mas eu teria que retornar ao Km 39,5 parar acessar a Estrada da CESP e chegar ao Camping Mandizeiro, onde faria o meu pernoite. No dia seguinte passaria de novo no Km 55 da Tamoios para então acessar a descida da serra em direção a Caraguatatuba, já no litoral norte.

Durante a semana que antecedeu ao projeto, amadureci melhor a idéia, fiz alguns contatos, conversei com meus fisioterapeutas e tudo transcorreu normalmente. Apenas uma dúvida restava: Será que eu aguentaria pedalar mais de 100 Km num só dia após ficar dois meses parado? Como as minhas costas e demais músculos reagiriam ao esforço físico que se apresentava? Afinal, embora me sinta muito bem, já não sou tão jovem!
Combinei com a minha esposa que, em caso de pane muscular ou qualquer outro sinal de dor ou indisposição, ligaria para ela e retornaria de onde estivesse sem forçar.

Assim, na manhã do dia 23/06/2011, quinta-feira, por volta das 5 horas da manhã, deixei a minha casa em direção a Estação Tatuapé da CPTM, onde pegaria o trem e chegaria até a cidade de Mogi das Cruzes, onde começaria realmente o meu ciclotur. O projeto previa sair pedalando no primeiro dia da Estação Estudantes em Mogi das Cruzes e chegar a Paraibuna, passando por Biritiba Mirim e Salesópolis, cidades ao longo da Rodovia SP-088. No segundo dia, após pernoitar em Paraibuna, pretendia chegar a Ilhabela, passando por Caraguatatuba e São Sebastião, já no litoral norte do Estado.

Mapas do passeio: (Clique nos mapas para ampliar)




Como um bom e prevenido "véio" deixei tudo preparado na tarde/noite anterior, deixando apenas as caramanholas para serem enchidas com água na manhã seguinte.

(Clique nas fotos para ampliar)

Bike pronta para a viagem.



Após pedalar por uns 10 Km, não era ainda 6 horas da manhã e eu já estava na Estação Tatuapé aguardando o trem para Guaianazes, de onde faria baldeação para Mogi das Cruzes.


As 6 embarquei no primeiro trem e logo chegamos a Guaianazes. Em meia hora eu já estava no segundo trem, agora só desembarcaria na Estação Estudantes, em Mogi das Cruzes.

Trem vazio para o horário, numa manhã de feriado prolongado, mesmo porque eu estava seguindo no sentido Cidade - Interior.



Estação Estudantes em Mogi das Cruzes.


Parei numa lanchonete ao lado da Estação, comi um pãozão de queijo acompanhado de um pingado (café com leite) bem quentinho. Aproveitei e comprei um isotônico sabor uva verde, que eu acho delicioso.

Bom, agora era pé na estrada. Não adiantava mais o frio na barriga, a ansiedade, a incerteza "será que eu chego lá?". A manhã estava fresca e agradável, muito convidativa para o pedal. Assim, logo acessei a SP-088 e procurei manter uma velocidade e cadência compatíveis com o meu despreparo. A Estrada estava ajudando, pois é um plano só até Biritiba Mirim.

Ciclovia no início da SP-088. Só no início...



Decapitei o gigante Bandeirante para sair na foto. Antes ele do que eu!



Céu de brigadeiro prenunciando um ótimo ciclotur!


As primeiras placas anunciando quantos Kms pedalar e as paisagens que vão sugindo ao longo da estrada.




Opa, por enquanto tudo bem!


Também num planão desses qualquer um pedala! 



Esta região é um cinturão verde de hortaliças destinadas a suprir o mercado de São Paulo. São chácaras e mais chácaras com chafarizes irrigadores ligados regando as hortaliças logo pela manhã.



Biritiba Mirim chegou, passou e eu continuei pedalando numa boa.




Agora, algumas subidas apareceram, mas nada assustadoras.


  
Opa, meu amigo Sombra! Seja bem-vindo ao pedal meu amigo!


Uma das coisas mais gostosas nesses passeios é 
descer a serra que não subimos.


A paisagem  começa a mudar... surgem as águas. 
A grande represa de Salesópolis.




Uma brisa fresca e agradável saúda o cicloturista nesta manhã de temperatura bastante amena.


Mais alguns Kms... uma boa subida e eis que surge Salesópolis! Na entrada da Cidade uma loja de artesanatos exibe suas obras de arte!

Chamou-me a atenção o enorme elefante esculpido em madeira. Lembrei-me que quando menino havia em casa um elefante enorme em gesso pintado.



O portal da Cidade.


Parei numa lanchonete para recalibrar o estômago, comprar água e ir ao banheiro.

Daqui para a frente comecei a enfrentar subidas. Algumas enormes e bem íngremes! Minha coxa, ou mais precisamente o músculo anterior da minha coxa esquerda, começou a dar sinais de fadiga. Interessante eu estava com apenas uns 65 Km pedalados e nem imaginava que imensos subidões ainda estariam por vir! 

Ao ver a placa abaixo tomei um grande susto: 84 Km para Paraibuna???!!! Não, não era possível! Alguma coisa estava errada. Será que "São Google", sempre tão milagreiro e solícito se enganara desta vez e me pregara uma grande peça?!


Mais alguns metros adiante chamei um senhor que pedalava  em sentido contrário e perguntei-lhe quantos kms faltavam para chegar á Rodovia dos Tamoios. Ele, pensou um pouco e respondeu sorrindo:

- Uns 70! E tem bastante  tope (subidas), que judia um bocado!
Mas como querendo me consolar, vendo a minha cara de espanto, complementou:
- Mas tem umas descidas boas que vão ajudar.

Agradeci a informação e pensei... 70 Km... ferrou!!! Depois de alcançar a Rodovia dos Tamoios eu ainda teria que voltar mais uns 18 Km até o Pesqueiro Mandizeiro... tava perdido!
Mas logo em seguida me reanimei e tomei uma decisão que, creio, me ajudou bastante a vencer o primeiro dia: Todas as subidas (topes) que aparecessem eu subiria empurrando a bike. Nada de pedalar subidona acima, eu precisava poupar a minha coxa esquerda!
E assim o fiz. Pouco a pouco, Km a Km fui vencendo o espaço que me separava do meu objetivo.

Ah, então é aqui que começa a famosa Estrada da Petrobrás! 
Um dia eu ainda venço você, se Deus quiser!


É interessante essas placas. Ao invés de ter uma placa só anunciando que não haverá mais acostamento até a Tamoios, aparecem várias placas ao longo da estrada com os Kms a frente, que somados, resultam em: Não há mais acostamento até o fim  desta rodovia!





Aos poucos vamos subindo, subindo, subindo... 
onde será que termina isso tudo?


Olhem. Eu vim lá de baixo. Até aqui é um subidão lascado! Não fui á Nascente do Tietê. Eram mais 6 Kms em terra e eu não podia me dar a esse luxo.


Aqui eu sentei e descancei por uma meia hora. Um subidão danado! Não havia absolutamente viva alma na estrada... silêncio total. Passada a meia hora, fiz um alongamento e continuei empurrando até o final da subida.



Oba, graças a Deus mais uns 20 e tantos Km e estarei no meu destino! Esse Bairro do Cedro, onde parei para tomar uma Coca zero, marca o final das subidas até a Tamoios.


Mais paisagens ao longo da rodovia.

 
Passava um pouco das 16 e 30 horas quando cheguei ao Pesqueiro Mandizeiro. 117 Kms pedalados no primeiro dia, nada mal para quem ficou parado durante mais de dois meses. Acredito que, depois da orientação divina, a minha decisão de empurrar nas grande subidas foi decisiva para chegar até aqui.


Tomei um banho de gato (pois aqui não tem chuveiro) e comi uma suculenta calabreza na chapa, no pão francês. Fiquei batendo papo com o pessoal que eu já conhecia do ano anterior, quando juntamente com o Luciano Ramos aqui estivemos. 
Embora tenha chegado cansado, nenhuma dor nas costas ou que pelo menos relembrasse as dores pelas quais eu passara nos últimos dois meses. Glórias a Deus!




A noite chegou e fui dormir cedo, afinal estava cansado e no dia seguinte ainda teria uma nova etapa para vencer.
Desta vez não estava frio como no ano passado. É certo que coloquei uma camiseta de manga comprida para passar a noite, mas não estava frio. Caí duro, dormi como uma pedra.
Acordei com vontade de ir ao banheiro. Olhei no relógio, eram 3:18 da madrugada. Levantei, peguei o farolete e fui ao banheiro, distante uns poucos metros. Na volta vinha distraído, ainda sonolento quando ouvi uma grande zurra! Uma espécie de latido forte mas meio assoprado. Que susto! Virei o farolete para o lado de onde viera o barulho e lá estava ela... há uns cinco metros de mim... uma enorme e bela Capivara! Enquando ela me olhava meio desconfiada entrei na barraca e continuei o meu sono interrompido.

Até amanhã! Ou melhor, até o 2° dia.




Antigão.

9 comentários:

PEDALADAS. disse...

O nosso mestre voltoouu... O nosso mestre voltoouu !!!!

Simplesmente: parabéns pela volta, pela garra e principalmente pela saúde retomada.
Que venham Segundos, Terceiros e Ene dias pela frente ainda de pedal.

Um abraço
Marcelo
www.pedaladas.com.br

Gabriel Rangel disse...

Parabéns Waldson,
Aposto que nem sabe que o acompanho, mas fiquei muito feliz com seu retorno.
As fotos ficaram muito boas, mas nessa viagem, é nítido que não foram o objetivo.
117km não é pra qualquer um, ainda mais com 2 meses parado.
Continue firme nos seus passeios que continuaremos a pedir ao bom Deus que Ele lhe permita muitos novos bons relatos como esse.


Abraço

Ps: que susto com a capivara hein!!

Unknown disse...

Obrigado Marcelo, obrigado Rangel.

Realmente o foco desta primeira parte do passeio não foram as fotos e sim superar os problemas físicos e chegar ao meu primeiro objetivo. Também convenhamos que essa estrada não apresenta tantas paisagens para serem fotografadas. Nos dias posteriores, vencida a primeira etapa, as fotos ficaram melhores.

Obrigado pela visita, palavras de incentivo e um grande abraço!

Antigão.

Randonneurs Litoral disse...

Parabéns Grande Waldson!!!

Pela garra e determinação de seguir em frente e vencer os obstáculos, concluindo o pedal.

Fiquei muito contente com a sua reabilitação e a sua volta ao pedal, e que volta!!! Em grande estilo, belas fotos e excelente relato.

Grande abraço e muitas pedaladas!!!

Anônimo disse...

Antigão, meu cara amigo que passei a ti admirar, fiquei muito feliz em ter encontrado seu blog, parabéns e que Deus te abênçoe.

Unknown disse...

Grande!! esse é o adjetivo que encontro para classifica-lo!!!
Deu a volta por cima e está novamente na estrada....
Fico feliz por estar novamente no cicloturismo!! Grande abraço e estou ansioso para o proximo post.
Emerson

Chuck Davis disse...

Looks like fun ride

Michelle disse...

Grande Waldson,
Meus parabéns!! É bom demais ver-te com saúde e nos prestigiando com essas delícias de viagens!!
Num trecho do post você comentou que é uma delícia descer a serra que não subimos ... fiquei pensando nisso e lembrando o tanto de serras já subidas e a alegria que sempre sinto quando vem as descidas, que bom que eu não sou a única a "chorar" com serras! rsrs
Grande abraço meu amigo

Alexandre disse...

Felismente o patriarca do cicloturismo renasceu. Arautos das boas novas mandem soar aos ventos do universo a nona de BEETHOVEN.
Curiosidade tive eu em saber se o Antigão dava sinais de vida através do seu belíssimo blog, depois de tanto tempo de inatividade. Inatividade relativa pois imagino quantos projetos não terão passado pela sua cabeça. ESpanto meu aparece ele renovado ( tenho a ideia que esteve afincadamente treinando para o Tour de France num centro de atletas de nível) e brinda a todos os aficionados, das suas aventuras, com uma etapa de 117kms.
Apetece dizer: oi cara o que estava inserido nos medicamentos para a coluna?
Contagiante e não é que todo ele transmite felicidade!
Isso de empurrar nas subidas também faz parte do esquema. Nada a lamentar; o importante será sempre transpôr mais um obstáculo.
Caro Waldson, mesmo atingindo o ótimo rendimento, em kms, não é isso o objetivo do cicloturismo e deve ter outros fatores em conta: entre esses não pode descorar a idade do motor e estrutura de suporte.Sei ser ele de elevada combustão e boa cilindrada. Se não chega a coxa do frango vai o bicho inteiro.Os anos influenciam o desempenho. Cuidado que todos os que possuem a ventura de o acompanhar, como eu a milhares de kms de distância, exigem mais relatos detalhados , das viagens, por longos anos. Mentalize-se da gravidade de nos deixar orfãos.
A cena da ave na gaiola é a antítese do Antigão; este está sempre pronto a voar.
Um cumprimento muito especial a sua esposa pela paciência monacal em compreender as suas traquinices.
Cordiais saudações

Alexandre Sousa
Grijó, V.N.Gaia