Dia 12/03/2015 - Quarta-feira.
Não vou dizer que não acordei muito cedo, mas não acordei muito cedo, hehehe! O tempo estava maravilhoso para pedalar naquela quarta-feira! Observe ao fundo, na foto acima, que o sol já estava nos banhando com seus raios quando deixei o Camping, em Ubatuba, SP. Eu já havia preparado tudo e estava na portaria para acertar o valor da última diária, já que ficara mais um dia. Estava em jejum, após tomar meu medicamento para o diabetes. O café da manhã tomaria na estrada, já que haviam inúmeras padarias bem pertinho e na direção que eu deveria seguir.
Hoje meu objetivo era chegar em Paraty, no Rio de Janeiro, distante apenas 71 Km.
Como já fiz esse pedal outras vezes, conhecia bem a altimetria, composta de subidas não tão íngremes, mas muito longas. Até a divisa dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro há subidas de até 8 Km!
O Sombra de moto e chapéu coco. (Parece, né?)
O meu companheiro Sombra parecia estar de moto e chapéu coco ao meu lado, enquanto eu pedalava lentamente, pois o objetivo era chegar, não importava a hora.
Parei numa padaria, tomei café e saí pedalando feliz da vida, afinal eu esperara mais de um ano por esse momento!
Neste trecho de estrada que vai do norte de Ubatuba até Paraty, nas subidas longas o acostamento se transforma em 3a. faixa e, se dois caminhões te alcançarem ao mesmo tempo, não há o que fazer senão se enfiar no meio do capim alto. Dessa maneira, é muito mais seguro pedalar no acostamento da contra-mão. Diga-se de passagem, na contra-mão há mais sombra e os paredões de pedra minam água tornando o ar mais fresco e mais respirável. Quando termina o subidão e vemos aquela plaquinha dizendo "Fim da terceira faixa á 300 metros" voltamos para a mão correta e nos preparamos para a descida. Simples assim!
O acostamento infelizmente não é tão lisinho. Parece que a máquina "niveladora" estava oval quando asfaltaram o acostamento.
Não pedalei mais do que uns 2 ou 3 Km e as nádegas assadas começaram a reclamar, ufa!
Minha estratégia seria aproveitar as descidas para levantar do selim e assim aliviar um pouco as dores "nadegais".
Esse trecho da estrada, como o anterior, possui paisagens lindas e maravilhosas, compostas de cachoeiras, ilhotas e até praias desertas. Um show a parte!
Tem muitos locais onde se pode reencher as caramanholas com água potável bem fresquinha.
Dá só uma olhada no visual!
O mar sem fim.
Antigão com os olhos repletos de tanto "colírio"
Nanika dando um ar colorido no imenso ambiente verde e azul.
O problema do brasileiro é esse monte de fios cruzando as paisagens!
Poderiam estar embutidos ao lado da estrada.
Eu olhava tudo isso e pensava: Duvido que um homem ou uma mulher, que esteja indeciso em relação à pratica do cicloturismo, não se decida a jogar os alforjes sobre o bagageiro da bike e sair pedalando por esse mundo afora, curtindo as maravilhas que Deus preparou para nós!
Estava admirando as paisagens e ao olhar para o acostamento vi um caramujo grande e bonito. Poxa, vou levá-lo para os meus netos, pensei! Mas quando o peguei vi que estava vivo e que morreria no asfalto quente daquela manhã. Tratei logo de tirá-lo dali e colocá-lo em meio ao seu habitat, onde com certeza ele teria muito mais chances. Só pensei em levá-lo por acreditar que já estivesse morto.
Coloquei o caramujo em seu habitat.
Que subidão! Parece que não vai acabar nunca! Parei um pouco para descansar e comer alguma coisa, pois minha barriga estava roncando de fome.
No alto de um subidão sempre tem um Antigão diante de uma nova paisagem.
Oba, estou chegando à Cachoeira da Escada onde poderei tomar um lanche reforçado: O famoso pão com calabresa na chapa do fogão de lenha. Imperdível! Como já queimei uma tonelada de calorias desde a hora que saí do norte de Ubatuba, posso me dar ao luxo de comer lanche e refrigerante zero.
Quase na divisa de Estados, São Paulo - Rio de Janeiro.
Uns poucos Km adiante e eu cheguei na lanchonete da Cachoeira da Escada. O cheiro de linguiça na chapa enchia o ar e meu estômago reclamava insistentemente! Já na entrada vi a quantidade de mosquitos (pernilongos) que rondavam o local procurando algum incauto de sangue novo para alimentá-los. Ah, eu não Sr. Anopheles!!!
Já havia parado na bica para lavar o rosto, as mãos e jogar um pouco de água fria no pescoço/nuca.
Solicitei o lanche ao Sr. José e corri para o alforje pegar o repelente. Eu hein!? Tomei um banho de repelente e sentei-me numa cadeira plástica para descansar as partes baixas, que doíam sobrepujadamente. Infelizmente nem tomei um banho de cachoeira, tal era o cansaço e as dores que estava sentindo.
Sr. José colocou diante de mim aquele lanche enorme e saboroso, acompanhado de um guaraná zero geladinho! Nossa, nem o melhor caviar do mundo substituiria aquele sanduba maravilhoso e suculento!
Havia várias pessoas locais e viajantes, pois era a hora do almoço e ninguém que passe por ali resiste a dar uma chegadinha na lanchonete da Cachoeira da Escada!
Lanchei, descansei um pouco fui tirar umas fotos.
Que tal?
Dei um tempo para baixar o "almoço", despedi-me do pessoal e saí pedalando serra acima. Estranhamente ninguém perguntou de onde eu vinha, para onde ia, minha idade e etc. A vantagem disso é que também ninguém me chamou de louco ou corajoso, que, nas entrelinhas, quer dizer a mesma coisa.
Dois Km acima e eu estava na Divisa de Estados, viva!!!
É, parece que mais 23 km e chego ao meu destino.
Quando a gente chega no topo desta subida vem uma descida longa, bem longa. Assim que comecei a descer já notei a diferença entre as administrações de São Paulo e Rio de Janeiro. Infelizmente no Rio o acostamento está inviável, pois foi todo tomado pelo capim alto, como se não existisse. Lembro de quando a administração estava construindo o acostamento há alguns anos atrás. Tanto investimento, tanto dinheiro do contribuinte gasto para nada! Observa-se esse desleixo também na sinalização da estrada, muitas vezes encoberta pelo mato ou inexistente. Mas tudo bem, pedalei sobre a pista mesmo, como já estou acostumado e quando havia algum resquício de acostamento eu o usava.
Nossa como foi difícil pedalar até chegar em Paraty! A dor nas partes baixas já beirava ao insuportável!
Saída para Trindade. Mas eu estava sem condições de chegar até lá, sinceramente.
Continuei pedalando e qualquer buraco que pegasse na roda traseira era um grito de Ai!, seguido de um palavrão!
De repente, não mais do que de repente, já caía a tardezinha... cheguei! Cheguei!!!!! Ahahahah, eu cheguei!!!!!! Aí, selim malvado, maledeto, eu CHEGUEIIIIIII!!!
Nanika observando a Veneza brasileira.
Passei na Rodoviária e comprei a passagem de volta para 10:30 horas do dia seguinte. Viação Reunidas. Como sói acontecer, exigências: Notas fiscal da bike e bike embalada. Quanto a nota fiscal, sem problemas, quanto à Nanika seria só dobrar e forrar com saco para lixo de 100 litros.
Dali fui direto para o Camping do CCB na Praia do Pontal, como de costume. Até pensei em ir até o Camping Jabaquara, mas como seria uma noite só e eu não estava a fim de pedalar mais - já sabem por quê, né? - fiquei por ali mesmo.
Foi bom, pois o Camping do CCB está bem modificado e havia apenas duas barracas pequenas, como a minha. Oitenta por cento do Camping é tomado por Trailers ou Moto-home enormes. Armei a barraca rapidinho e fui tomar um reconfortável banho morno. Nessas horas a água morna parece um bálsamo enviado por Deus!
A fome bateu novamente. Fui à praia curtir o mar e comer alguma coisa, afinal eu estava apenas com o lanche do almoço no estômago.
A tarde caindo na Praia do Pontal, Paraty, RJ.
Fiz uma cera por ali, voltei à barraca, troquei de roupa e fui curtir um pouco da noite, embora eu objetivasse dormir cedo.
E fui mesmo dormir cedo.
Acordei por volta das 7 horas da manhã seguinte, sexta-feira. Preparei o café, comi e comecei a desmontar a barraca. Não havia muita coisa para ajeitar, pois eu já deixara tudo preparado na noite anterior, uma vez que não havia previsão de chuva.
Tudo preparado, cheguei na portaria do Camping para acertar o pouso. Despedi-me do guarda/porteiro e fui em direção à Rodoviária da cidade.
Nanika e tralha embalada, agora é só esperar o ônibus para o Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo.
Olha como é prático viajar com a Nanika. No bagageiro do ônibus ela fica pititiquinha!
O ônibus chegou com uns 15 minutos de atraso, mas o embarque foi rápido. Seis longas horas depois desembarquei na Rodoviária do Tietê, morrendo de dor nas costas, de tanto ficar sentado. Interessante que cicloviajei 300 Km sem nenhuma dor lombar, mas sentado no ônibus, haja lombar!
Costumo chegar na Rodoviária do Tietê e sair pedalando até em casa, mas desta vez não deu não! Eu deveria ficar uns 15 dias ao menos longe de um selim de bike. Misericórdia!
Peguei um taxi e morri com uma boa grana para chegar até em casa!
O que dizer desta cicloviagem?
Cicloviagem altamente recomendável. Quem ainda não fez, faça, pois vale muito a pena. As fotos, vídeos e este relato não representam ao todo as exuberantes paisagens que há para se ver, o prazer da descida da serra da Tamoios, as cachoeiras, o mar, as praias, a acolhida nos Campings, enfim tudo muito lindo e prazeroso!
Quanto aos equipamentos, nenhum contratempo. Vale a pena investir e manter a bike sempre com boas peças, bem regulada e lubrificada.
Agradeço a Deus por mais essa oportunidade de contemplar Suas maravilhas. Agradeço ao pessoal do Mandizeiro Camping & Laser - Paraibuna-SP, Camping El Shaddai - Caraguatatuba - SP, Camping Sítio Usina Velha - Ubatuba-SP e Camping CCB, Praia do Pontal, Paraty-RJ pela ótima acolhida.
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