Esta deliciosa aventura desta vez foi narrada pelo nosso grande companheiro de pedaladas, Luciano. Grande parceiro, nos damos muito bem pedalando juntos, compreendendo as necessidades e limitações de cada um. E foi assim que nasceu mais este ciclotur. Leiam a descontraída narrativa do Luciano.
___________________________________________________________________
Depois de dezenas de e-mails trocados, vários cálculos sobre quilometragens, tempo de viagem, médias horárias, análises sobre altimetria, finalmente chegou o dia em que tanto sonhamos: Chegou mais uma cicloviagem !!!
Waldson e eu decidimos optar por um destino já conhecido por nós: Ilhabela. Mas desta vez queríamos fazer alguma coisa diferente, pois os dois já tinham visitado a Ilha por pelo menos 2 vezes de bike. Decidimos assim fazer a viagem pelo caminho mais longo, porém menos cansativo (ao menos era o que nós imaginavamos...). Vamos descer pela rodovia dos Tamoios e encarar sua famosa serra !!!
O "professor" como é conhecido meu velho amigo de pedal, ficou encarregado de achar um Camping para descansarmos, pois após analisar o percurso, entendemos que seria perigoso percorrer o caminho todo num só único dia, porque fatalmente chegaríamos ao trecho de serra no ínicio da noite, o que já é perigoso de carro, imaginem de bike?!?!?! Decidimos pernoitar na aprazível cidade de Paraibuna. Apesar dos apelos do nosso amigo Waldson (que consultou as previsões do tempo, onde prometia uma queda brusca de temperatura na madrugada do sábado para o domingo) optamos por acampar.
Apesar dos dois ciclistas serem (modéstia parte !!) experientes, o friozinho na barriga foi aumentando durante a semana que antecedia a viagem porém não pudemos nos comunicar muito, devido a estafantes compromissos profissionais. Confiamos no planejamento prévio e no dia anterior à nossa saída, trocamos e-mails rápidos, sacramentando nosso compromisso.
Tudo conspirava ao nosso favor: Previsão de clima ameno e agradável (menos de 5% de probabilidade de chuva), treinamento em dia e bikes revisadas. Não tinha como dar nada errado certo??? Bom, sempre alguma coisa pode sair errado....
Combinamos nossa saída, às 5hs da manhã, do dia 15/06/2010, na estação do Metrô Carrão (SP). Saí de casa às 4:15 com tempo de folga para percorrer os 10km até o ponto de encontro. Estranhei o clima agradável que fazia pela manhã (pois fui dormir na sexta-feira com um tempo fechado, com garoa fina e vento gelado. Apesar da bike estar exageradamente pesada (26kgs), a bagagem estava bem acondicionada e a bike nem parecia estar "full load"...
Detalhe da bagagem: 2 colchões infláveis, barraca, roupas, saco de dormir...
Sai pedalando tranquilamente, e no ínício da Av. Anhaia Melo, começo a escutar aquele barulhinho que nós ciclistas tanto odiamos... ssshhhhiiiiiiiiiiiii.... Pneu furado e ainda às 4:30 da manhã??!?!? Sacanagem....
Logo depois de constatar que haveria atrasos, já me comuniquei com o Waldson, informando o ocorrido. Ainda bem que foi o pneu dianteiro e a troca foi ligeira e retomei o pedal. Rapidamente alcancei a Av. Salim Farah Maluf e para a minha surpresa, uma leve garoa começou a cair... Inicialmente achei que era apenas sereno da madrugada, mas a coisa começou a ficar cada vez mais forte. E a temperatura caindo rapidamente tbm me assustou.
Ao chegar no Ponto de Encontro, religiosamente atrasado 25 minutos o frio e a garoa já estavam incomodando. Mas a vontade de pedalar era grande !!!
Reparem nas gotas de garoa fininha caindo !!! E os dois completamente "cobertos" de blusas !!! O Waldson estava até de gorro e cachecol !!!!
Rapidamente saímos, aproveitando o aquecimento da pedalada de casa até o metrô. Acreditávamos que chegaríamos ao nosso destino antes das 14hs da tarde, se tudo ficasse bem. Mandamos ver no pedal e assim que alcançamos a Marginal Tiête, ainda no escuro, escutamos o barulho apavorante novamente: ssshhhhiiiiiiiiiiiii... Mais 1 pneu furado, e agora era do Waldson...
E a garoa já começava a incomodar...
Detalhe do lugar onde o pneu da bike do Waldson, caprichosamente, resolveu furar... Que vergonha, dois marmanjos na porta do motel no dia dos namorados ?????
Manutenção efetuada nas bikes e atrasados cerca de 1h de nossa programação original, alcançamos, ainda no final da madugada, a ciclovia do Parque Ecológico. Ainda não está totalmente terminada, porém será um lugar bem legal de se pedalar. Ótima para quem adora bikes !!!
Ciclovia boa até no escuro!
Aqui, já na claridade do dia, alcançamos o ínicio da Rodovia Airton Senna. Pausa clássica para fotos.
Apesar do frio, olha a cara de alegria do Antigão...
Forçamos a pedalada e chegamos ao primeiro (e acredito que único) posto da Airton Senna. O frio estava de matar, e aproveitamos para nos aquecer com um belo chocolate quente com pão de queijo. A garoa deu uma pausa...
Foto no posto do Km 30 da Rod. Ariton Senna da Silva
Mas a pausa da garoa foi breve... Logo que saimos do posto começou a cair um chuvinha gelada, que não parava nunca. A temperatura caiu vertiginosamente. Acho que eu nunca pedalei com tanto frio !!!! Além da jaqueta e da camiseta de lycra, ainda tive que apelar para a capa de chuva.
E o Antigão achou uma forma de demonstrar seu amor pela Pátria !!!! Achou uma bandeira nacional no acostamento. E não é que a danada nos acompanhou até o final da viagem ???
Aqui, já próximo à saída para Guararema, resolvemos dar uma pausa para troca de roupas molhadas... Mas o frio era de lascar !!!!!!!!
E ganhamos novamente a estrada... Só para nós !!!
Só para nós mesmo !!! Não tinha quase carros passando pela Carvalho Pinto.
E aí rodamos tranquilamente por algumas hora. O clima ficou mais agradável e o sol resolveu aparecer, mas continuava frio. O Waldson chamou definiu bem em poucas palavras como estava o tempo: "Parece o sol da Rússia, clareia mas não esquenta !!!!" ahahaha
Um aviso aos cicloturistas: Se for pedalar na Airton Senna/Carvalho Pinto tenho em mente que NÃO HÁ NENHUM PONTO DE ABASTECIMENTO. Não temos postos de gasolina nesse trecho.
Finalmente chegamos ao final da Rodovia Carvalho Pinto. Eram cerca de 13hs, estavamos no horário. Já tinhamos rodado 106km e ainda pela frente cerca de 40km até o camping em Paraibuna. Como o percurso até o momento tinha sido relativamente fácil, devido à poucas subidas, acreditamos que o pior da viagem a gente já tinha passado. Olha a alegria !!!!
E aqui, o ínicio da Tamoios...
E hora do almoço... huuum que delícia !!!
Com as energias recarregadas, voltamos pela Tamoios, crentes que a altimetria era parecida com o que já haviamos passado... Ledo engano !!!! A Rodovia dos Tamoios é uma verdadeira Montanha Russa !!!!!!!!!! Nao existem trechos planos, e as subidas são íngremes e muuuuuuuuuuito longas.
Só um aperitivo... Essa era uma das menores subidas
que a gente ainda tinha para vencer !!!
que a gente ainda tinha para vencer !!!
Sem dúvida nenhuma, esse trecho foi o lugar mais "casca grossa" que eu já pedalei. Acostamento estreito (cerca de 1 m de largura) e muito, mas muito vento contra !!!! As nossas médias cairam vertiginosamente e a gente comemorava quando conseguiamos manter 9km/h na subida, mas na verdade, em alguns trechos, era impossível pedalar acima de 6km/h. Muito esforço mesmo. Como disse o Waldson, tinha subida que "vc tem que subir com o poder da mente !!!" Foi difícil mesmo. Nesse trecho ficamos vários trechos sem ao menos trocar uma palavra !!! Qualquer energia gasta desnecessriamente poderia fazer falta mais adiante. Foi, sem dúvida nenhum, um desafio !!!
Com uma média horária prejudicada, e visivelmente cansados, alcançamos a cidade de Paraibuna ao final da tarde. Acho que eram quase 17hs... (Notem que demoramos 4 horas para fazer 40km...)
E a cidade estava em festa... Festividades do Aniversário do Município (ahh, descobrimos porque todos os campings e pousadas estavam lotadas...)
A bela Paraibuna:
Fim do primeiro dia de pedal:
O camping fica na estrada que beira o Rio Paraibuna, onde está instalada a Represa da Cesp. Chegamos já com a noite fechada no camping onde fomos extremamente bem recebidos pelos donos do local. Mas o frio era uma preocupação, já que a área de camping ficava à menos de 5 metros da margem do Rio Paraibuna. Fomos alertados pelo neto do dono do camping à montar as barracas num barracão coberto, e eu, ingênuamente, recusei. Resolvemos montar as barracas, bem perto da margem do rio.
Fomos comer na lanchonete do camping e o frio já estava quase insuportável (já passava da 19hs, tudo escuro e um vento de cortar) e fomos informados que, durante a semana, foi registrado a temperatura de -3 graus na área do camping, durante a noite. O Waldson recebeu uma ligação de sua esposa que, muito preocupada, se apressou em avisar que viu no noticiário que poderia haver geada na região onde estávamos. O Antigão, velho marinheiro, logo tratou de esticar uma lona de 16m quadrados por cima das nossas barracas, a fim de nos proteger do sereno da madrugada. Confiando na qualidade de nosso equipamento de camping, lá fomos nós, montamos as barracas, inflamos os colchões infláveis e fomos descansar. Entramos nas barracas, as 20hs.
Nosso pior pesadelo se iniciou... O frio era insuportável, mesmo dentro de barracas com isolamento térmico e colchões infláveis, que nos deixavam longe do chão frio, e ainda protegidos por sacos de dormir que prometiam proteção para temperaturas até -5º. Uma densa neblina rapidamente baixou pelo acampamento e uma ventania gélida nascia do rio e vinha diretamente às parades de nossas barracas. Foi realmente uma noite dificil de dormir. Tudo parecia estar molhado, gelado. O Waldson relatou caimbras à noite, provavelmente causada pelo frio.
Após uma longa noite de frio, tinhamos planejado sair do camping às 7hs, o que foi impossível de fazer, porque era impraticavel sair da barraca com aquele frio. Não tenho certeza, mas a temperatura durante a noite deve ter chegado tranquilamente à 0º. A imagem do camping, às 7hs da manhã era desoladora...
Notem a garça branca á direita, encorujada de frio....
A lona que o Waldson instalou estava completamente encharcada...
E o Antigão, sabiamente, acendeu um fogo para se aquecer...
E preparar nosso café da manhã...
Após desmontar nosso acampamento, alguns pescadores vieram conversar com a gente, e mal podiam acreditar que passamos a noite acampados alí. Já passava das 8:30 da manhã e a condição do tempo continuava desanimadora...
Fechamos a conta e partimos. Camping nota 10 !!! Recomendo.
9:10 da manhã, à margem do Rio Paraibuna,
agora já proximo à rodovia Tamoios:
agora já proximo à rodovia Tamoios:
Finalmente o tempo resolveu abrir e o sol mostrar a sua cara. Uma pausa para realocar blusas.
Já na Tamoios continuava com a rotina de não ter um só quilômetro plano. Só subidas e descidas.
Apesar das subidas, o visual compensa....
E finalmente chegou a hora tão esperada... A Serra da Tamoios !!!!
Ô plaquinha abençoada!!!
A serra é maravilhosa. São 14km só de descida e com curvas fortíssimas. Tem que ter muito atenção ao descer, pois nem sempre o acostamento é bom. Tomamos muito cuidado para não "empolgar" muito, porque com bike carregada, tudo fica mais perigoso. Importante saber que na serra só podem descer caminhões até o meio-dia aos finais de semana. Importante respeitar o horário, para não ter que dividir o espaço com eles.
Nesse ponto, que era a primeira curva fechada da serra, dava para perceber claramente que alguem se perdeu de carro na curva. Estava cheio de marcas e centenas de pedaços de lataria de carro. Quando paramos nesse ponto para retratar essa belíssima paisagem, um carro de passeio quase de perdeu na curva... Que susto !!!!!!!!!!!
Outra parada... Olha lá Caraguá !!!!!!!!
E desse lado, São Sebastião !!!!
E finalmente, depois de uma longa, alucinante e maravilhosa descida, Caraguatatuba !!! A adrenalina estava à mil, e gritávamos como se tivessemos conseguido escalar o Everest ... Os carros passavam por nós e não entendiam nada que estava acontecendo...
Ao chegarmos em Caraguá, que apesar do sol, estava com um clima bem frio, estávamos loucos por um belo PF!!! Arroz, feijão e um belo bife...
E aí depois bateu aquela preguiça. Já passava das 13hs e ainda teríamos um belo trecho de serra para Ilhabela. Porém os sinais da noite anterior mau dormida e os sintomas da gripe que eu e o Waldson pegamos já começavam a nos derrubar. Felizes por termos vencido à famosa Tamoios, de ponta-a-ponta, decidimos dar por encerrada nossa viagem.
Já com as passagens compradas rumo à rodoviária do Tietê, cheios de histórias para contar e felizes por mais um desafio cumprido. Além dos mais de 190km pedalados, Waldson "Antigão" ainda mantinha o bom humor que lhe é peculiar. E a bandeira nacional, que nos acompanhou por toda a viagem, agora já faz parte da bike dele !!
Mas aí, aconteceu o que ninguem esperava. Na hora de guardar as bikes, O Waldson entrou em baixo do bagageiro do ônibus e acidentalmente perdeu sua preciosa câmera fotográfica, com metade dos registros de nossas aventuras. Uma irreparável perda, pois sabemos que, as fotos que o Waldson capta, contam a história de uma forma bem diferente...
Entramos no onibus e eu, particularmente esgotado, dormi a viagem inteira e decidi ligar para a minha esposa me buscar. Sinceramente não tinha forças para continuar, mas o Antigão ainda pedalou mais 10km até o Carrão, onde a sua patroa foi recebe-lo.
Não sei de onde o "véio" tira tanta energia !!! Eu quase não tive forças para colocar a bike em cima do carro !!!
E assim foi o relato de mais uma aventura !!!
Infelizmente não pudemos contar com as fotos do Antigão, que com certeza, deixariam a história mais rica em detalhes. Apesar da gripe que eu enfrentei durante a semana, faria tudo de novo !! O passeio foi sensacional !!!
E certamente o "Antigão" já está bolando o próximo.
Valeu
Dados:
- Kms Rodados: 195,69km
- Média Total: 14,9km/h
- Velocidade Máxima: 51km/h
- Baixas: 2 pneus furados.
- Hora Saída Primeiro Dia: 5:25AM
- Chegada Segundo Dia: 13:25PM
- Camping Mandizeiro: Diária R$15,00
Ao final desta narrativa, quero agradecer primeiramente a Deus por ter me proporcionado estar lá, curtindo essa aventura tão deliciosa, e ao companheiro Luciano, fiél amigo.
Agradeço também ao pessoal do Camping Madizeiro, Pesca e Laser, Sr. Otávio e seu neto Marcelo, pela boa acolhida. Pena eu ter perdido a Câmera fotográfica, onde registrei essas simpáticas pessoas.
O Camping pode ser acessado em
www.madizeiro.com.br
Agradeço também ao pessoal do Camping Madizeiro, Pesca e Laser, Sr. Otávio e seu neto Marcelo, pela boa acolhida. Pena eu ter perdido a Câmera fotográfica, onde registrei essas simpáticas pessoas.
O Camping pode ser acessado em
www.madizeiro.com.br