Pesquisa prova que passar quatro dias na natureza sem tecnologias aumenta criatividade em 50%.
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Nesta semana, ao ler a matéria do sub-título acima (Clique para ler a matéria) lembrei-me de um dos meus belos momentos vividos na década de 1980, no Pantanal Sul Matogrossense.
A terra inundada. No alto muitos Biguás seguindo em direção
aos seus pontos de pesca.
Da esquerda para a direita, eu, meu sobrinho Alexandre e meu primo Wilson.
Todos os anos nós juntávamos uns trocados, tirávamos alguns dias de folga do trabalho e íamos pescar no Pantanal Sul Matogrossense. Não lembro se em 1985 ou 86 estávamos em Bonito-MS, prontos para prosseguir viagem até á beira do Rio Naitaka, onde um barco nos resgataria e nos levaria ao ponto de acampamento, uma hora mais ou menos navegando pelo Pantanal, próximo ao leito do Rio Nabileque.
Nessa época um dos meus cunhados estava morando em Bonito-MS e iria conosco. Ocorre que um fazendeiro local pediu que ele aproveitasse a viagem e levasse uma caminhonete Ford F1000 carregada de sal para o seu gado. Assim, ficou combinado que o pessoal iria no dia seguinte e meu cunhado e eu iríamos no outro dia, pois precisávamos pegar a caminhonete carregada com o sal. Eu, além de fazer companhia ao meu cunhado, estava encarregado de abrir as porteiras, naquela época acima de 25. Assim, ao chegar numa porteira, descia do veículo, abria a porteira, esperava a o veículo passar, subia e continuávamos a viagem. Era bastante cansativo fazer isso, mas não tinha outro jeito. Não se pode permitir que o gado de uma fazenda misture-se ao gado de outra propriedade.
Assim, saímos no clarear do dia aprazado. O caminhão que partira no dia anterior, além do pessoal, levava também o combustível que seria usado nos barcos, gerador e na viagem de volta. Parte da tralha seguia numa Parati, da Volkswagen.
Não lembro exatamente, mas seguíamos pela MS-382, depois MS-195 por aproximadamente 80 Km, quando então sairíamos numa estrada de fazendas, descendo em direção ao Rio Naitaka.
Havia chovido bastante nos dias anteriores, portanto a medida que íamos descendo as grandes poças de lama iam aparecendo. A caminhonete carregada encalhou numa delas. Alguns minutos de tensão, muito trabalho mas conseguimos sair numa boa.
Alguns Km mais abaixo um trecho só de lama, um verdadeiro lamaçal. Paramos antes, examinamos o terreno e resolvemos que daria para passar. Ledo engano! A caminhonete atolou até os eixos!
Começamos então a longa tarefa de tentar desatolar a caminhonete. Descarregar todo aquele sal? Era impraticável. Os sacos eram pesados e havia muitos deles. Ademais teríamos que caminhar um bom trecho com os sacos na cabeça, pois havia lama para todos os lados.
Lida daqui, lida dali, a cada hora avançávamos apenas um metro ou menos. Ficamos enlameados dos pés à cabeça. Muitas horas depois, cansados e com fome, estávamos quase desistindo, quando ouvimos um ronco que mais parecia um trator ou um caminhão. Naquela região, quando a gente ouve um ronco de caminhão ele pode estar há muitos Km de distância!
Não havíamos levado nada para comer, pois o combinado seria o pessoal nos pegar no Rio Naitaka na hora do almoço, quando prevíamos chegar ao local de encontro.
Tínhamos conosco apenas um corote de 5 L de água, um facão e cada um portava uma faca de caça na cintura. A hora do encontro já havia passado há muito tempo!
Ficamos ali esperando, em silêncio, enquanto ouvíamos o ronco do caminhão que se aproximava.
Parece que havia passado uma eternidade quando um caminhão apareceu numa curva, trazendo em sua carroceria uns 20 peões de fazenda. Meu cunhado e eu sorrimos de orelha a orelha. Eles teriam que nos ajudar, pois se não o fizessem não tinham nem como passar com o caminhão!
Mas, o pessoal do MS é muito hospitaleiro e solícito. Mal chegaram, apenas perguntaram para onde estávamos seguindo, pularam para o meio da lama e quase ergueram a caminhonete com seus braços fortes. Num segundo estávamos a salvo daquele lamaçal que nos atormentara por horas.
Passado o problema, seguimos estrada abaixo e pouco depois chegamos á ponte do Naitaka. Dali para a frente não havia mais estrada, só água. A tarde já ia alta. Em pouco tempo escureceria e não víamos a possibilidade de sermos resgatados naquele dia.
A fome bateu como uma marreta gigante no meu estômago: nada, absolutamente nada para comer! Procurei para ver se via algum pé de fruta, mas nada. Fiquei ali na ponte sentindo uma inveja danada de um Martim Pescador que estava pousado noutra extremidade da ponte: Ele olhava para baixo, mergulhava e voltava com um peixinho no bico. Ajeitava sua refeição, engolia e ia para o próximo mergulho. Bem sucedido ele logo se foi com o papo cheio de comida. Caramba, eu não tinha nem uma linha, nem um anzol para tentar pelo menos pegar um peixe! Tudo fora com o caminhão no dia anterior.
Achei uma cebola no pier improvisado. Estava inteira, com casca. Alguém deve te-la deixado cair na hora do embarque. Voltei para a caminhonete e abri o porta-luvas. Haviam duas fatias de pão americano no fundo de um saco de plástico. Não estava embolorado. Meu cunhado se recusou veementemente a aceitar uma fatia. Disse que aguentaria sem se alimentar até o dia seguinte.
Bom, vou fazer uma fogueira e comer cebola assada com pão, já quebra o galho. Já estava escurecendo e os pernilongos começaram o seu festival de picadas. Muitos, centenas deles disputavam o nosso sangue! Meu cunhado entrou na cabine da caminhonete, fechou os vidros e ficou protegido dos mini vampiros.
Numa última esperança, lembrei-me de quando eu era menino e caçava peixes com lanterna e porretadas. Peguei uma lanterna que havia na caminhonete, o facão e fui para a beira da água, explorando os locais rasos onde haviam pedras. Meu cunhado ainda brincou dizendo que iria encontrar uma Sucuri, isso sim!
Fui focando com a lanterna, facão na mão e... uma enorme Traíra balançava o corpo entre as pedras! Fui chegando devagar e ela como que hipnotizada pela luz ficou ali esperando o golpe fatal. Um golpe vigoroso de facão e ali estava a minha refeição, pronta para ser assada e degustada.
Meu cunhado estava firme em seu propósito de não comer, portanto assei a traíra numa fogueira que fiz com bambus velhos que encontrei e comi com pão e cebola assada, hehehe!
A Parati que fora com o caminhão estava lá, estacionada próximo á beira d'água. Forcei o vidro, consegui levantar o pino e abri a porta. Após o "jantar" eu estava totalmente preparado para dormir o sono reparador. Cansado, adormeci logo em seguida.
Na manhã seguinte, próximo da hora do almoço, fomos resgatados pelo barco que viera nos buscar. Trouxeram também um pessoal que levaria a camionete para a sede da fazenda de seu proprietário, onde descarregariam o sal.
Já no acampamento, lembro-me de Dna. Poli fazendo um delicioso arroz carreteiro que comemos a nos fartar.
É isso,
Grande abraço do...
Clique para conhecer mais sobre Pantanal do Nabileque
Havia chovido bastante nos dias anteriores, portanto a medida que íamos descendo as grandes poças de lama iam aparecendo. A caminhonete carregada encalhou numa delas. Alguns minutos de tensão, muito trabalho mas conseguimos sair numa boa.
Alguns Km mais abaixo um trecho só de lama, um verdadeiro lamaçal. Paramos antes, examinamos o terreno e resolvemos que daria para passar. Ledo engano! A caminhonete atolou até os eixos!
Começamos então a longa tarefa de tentar desatolar a caminhonete. Descarregar todo aquele sal? Era impraticável. Os sacos eram pesados e havia muitos deles. Ademais teríamos que caminhar um bom trecho com os sacos na cabeça, pois havia lama para todos os lados.
Lida daqui, lida dali, a cada hora avançávamos apenas um metro ou menos. Ficamos enlameados dos pés à cabeça. Muitas horas depois, cansados e com fome, estávamos quase desistindo, quando ouvimos um ronco que mais parecia um trator ou um caminhão. Naquela região, quando a gente ouve um ronco de caminhão ele pode estar há muitos Km de distância!
Não havíamos levado nada para comer, pois o combinado seria o pessoal nos pegar no Rio Naitaka na hora do almoço, quando prevíamos chegar ao local de encontro.
Tínhamos conosco apenas um corote de 5 L de água, um facão e cada um portava uma faca de caça na cintura. A hora do encontro já havia passado há muito tempo!
Ficamos ali esperando, em silêncio, enquanto ouvíamos o ronco do caminhão que se aproximava.
Parece que havia passado uma eternidade quando um caminhão apareceu numa curva, trazendo em sua carroceria uns 20 peões de fazenda. Meu cunhado e eu sorrimos de orelha a orelha. Eles teriam que nos ajudar, pois se não o fizessem não tinham nem como passar com o caminhão!
Mas, o pessoal do MS é muito hospitaleiro e solícito. Mal chegaram, apenas perguntaram para onde estávamos seguindo, pularam para o meio da lama e quase ergueram a caminhonete com seus braços fortes. Num segundo estávamos a salvo daquele lamaçal que nos atormentara por horas.
Passado o problema, seguimos estrada abaixo e pouco depois chegamos á ponte do Naitaka. Dali para a frente não havia mais estrada, só água. A tarde já ia alta. Em pouco tempo escureceria e não víamos a possibilidade de sermos resgatados naquele dia.
A fome bateu como uma marreta gigante no meu estômago: nada, absolutamente nada para comer! Procurei para ver se via algum pé de fruta, mas nada. Fiquei ali na ponte sentindo uma inveja danada de um Martim Pescador que estava pousado noutra extremidade da ponte: Ele olhava para baixo, mergulhava e voltava com um peixinho no bico. Ajeitava sua refeição, engolia e ia para o próximo mergulho. Bem sucedido ele logo se foi com o papo cheio de comida. Caramba, eu não tinha nem uma linha, nem um anzol para tentar pelo menos pegar um peixe! Tudo fora com o caminhão no dia anterior.
Achei uma cebola no pier improvisado. Estava inteira, com casca. Alguém deve te-la deixado cair na hora do embarque. Voltei para a caminhonete e abri o porta-luvas. Haviam duas fatias de pão americano no fundo de um saco de plástico. Não estava embolorado. Meu cunhado se recusou veementemente a aceitar uma fatia. Disse que aguentaria sem se alimentar até o dia seguinte.
Bom, vou fazer uma fogueira e comer cebola assada com pão, já quebra o galho. Já estava escurecendo e os pernilongos começaram o seu festival de picadas. Muitos, centenas deles disputavam o nosso sangue! Meu cunhado entrou na cabine da caminhonete, fechou os vidros e ficou protegido dos mini vampiros.
Numa última esperança, lembrei-me de quando eu era menino e caçava peixes com lanterna e porretadas. Peguei uma lanterna que havia na caminhonete, o facão e fui para a beira da água, explorando os locais rasos onde haviam pedras. Meu cunhado ainda brincou dizendo que iria encontrar uma Sucuri, isso sim!
Fui focando com a lanterna, facão na mão e... uma enorme Traíra balançava o corpo entre as pedras! Fui chegando devagar e ela como que hipnotizada pela luz ficou ali esperando o golpe fatal. Um golpe vigoroso de facão e ali estava a minha refeição, pronta para ser assada e degustada.
Meu cunhado estava firme em seu propósito de não comer, portanto assei a traíra numa fogueira que fiz com bambus velhos que encontrei e comi com pão e cebola assada, hehehe!
A Parati que fora com o caminhão estava lá, estacionada próximo á beira d'água. Forcei o vidro, consegui levantar o pino e abri a porta. Após o "jantar" eu estava totalmente preparado para dormir o sono reparador. Cansado, adormeci logo em seguida.
Na manhã seguinte, próximo da hora do almoço, fomos resgatados pelo barco que viera nos buscar. Trouxeram também um pessoal que levaria a camionete para a sede da fazenda de seu proprietário, onde descarregariam o sal.
Já no acampamento, lembro-me de Dna. Poli fazendo um delicioso arroz carreteiro que comemos a nos fartar.
Eu, tomando uma água de côco em frente ás nossas barracas de acampamento.
É isso,
Grande abraço do...
Clique para conhecer mais sobre Pantanal do Nabileque
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