Arapeí-SP, sexta-feira de Páscoa, 29/03/2013.
Cenário da manhã que nos espera.
(Clique nas fotos para ampliar)
6h30m o celular gritava novamente como o despertador do Pica-Pau, trazendo-me à realidade de mais um dia de pedal. Segundo dissera o Sr. Milton na noite anterior o café seria servido ás 7h.
Corremos, o Fábio e eu, para nos aprontarmos para o café. Quando chamamos o Sr. Milton... bom ele perdera a hora. Gente boa, pediu desculpas e tratou de se apressar para preparar o nosso cafe da manhã. Enquanto isso tratamos de dar uma volta até a Praça Alambary, pois eu jurava que tinha visto uma placa com o mapa da Estrada Real.
Mais uma vez a retentiva me traíra. Aliás, ultimamente creio que devido ao stress de não fazer nada, a velha retentiva está deixando a desejar. Lembro dos fatos antigos, mas os recentes... bom deixa prá lá.
Fizemos uma rápida caminhada e agora sim, o café estava pronto
A Igreja Matriz de Arapeí.
A Praça Alambary.
Sede da Prefeitura da cidade.
O cenário de nossa saída pode ser visto na primeira foto: Uma manhã esplêndida!
Passava 5 minutos das 8 quando começamos a pedalar em direção a Bananal.
Sabíamos que esse dia seria puxado, pois havíamos visto os gráficos de altimetria, principalmente da subida da Serra, mas não tínhamos ideia da exata dimensão do que iríamos encontrar; apenas imaginávamos que seria puxado.
Logo as belas paisagens, ricas em verde, vieram encher os nossos olhos e alegremente pedalávamos curtindo aqueles momentos de prazer e aventura.
Feriado de Páscoa, a estrada quase reservada unicamente aos cicloturistas.
Uma cachoeira ao longe desce rasgando a pedra.
Entramos na Fazenda dos Coqueiros para uma visita rápida e algumas fotos.
A sede da fazenda.
Caquizeiro carregado de frutos amarelo avermelhados dá um tom diferente à paisagem verde.
Você conhece Caja-manga? Estou em dúvida se este é um pé de Caja-manga. (?)
A estrada serpenteia, subindo e descendo. Quando descia eu gritava: "Pedalar prá quê?!!!" e soltava a bike que com as rodas 700 atingia uma boa velocidade rapidamente.
A árvore cocuruto no alto do morro parece o acabamento de uma boina verde.
Não demorou muito e chegamos em Bananal, SP. Não nos detivemos muito tempo na cidade. Apenas o tempo necessário para comprar e repor os estoques de água e algumas frutas. Nem fotos tiramos. Nosso objetivo era subir a serra e nos embrenharmos no Sertão da Bocaina.
Não marquei exatamente a hora que saímos da cidade e pegamos a Estrada do Sertão, SP-247. O Fábio disse que foi por volta das 10:30. Apenas sei que o meu velocímetro marcada 115, 410 Km pedalados.
Início da SP-247.
A princípio a estrada bem asfaltada e quase sem movimento nos animou bastante. O site do Camping dizia que teríamos apenas 7 Km de estrada de terra. Então não seria tão difícil assim.
Mas, de repente, não mais do que de repente... cadê o asfalto?! Sumiu como por encanto! Foi substituído por um misto de cascalho e buracos. E tem mais: logo começou a ascensão. Agora não dava mais para parar de pedalar.
Como eu estava com pneus bem cheios para rodar em asfalto, comecei a sentir que a bike estava instável e pulava que nem cabrito. Parei e esvaziei os pneus. Deixando-os mais macios eles absorveriam melhor os impactos provocados pelo cascalho e buracos.
Asfalto???!!! Onde?
Aquele pico é o nosso objetivo. Será que chegaremos lá?
Subíamos devagar e concentrados quando avistamos uma bela jovem que veio ao nosso encontro. Ela logo foi dizendo: "Ora, mas que prazer! Cicloturistas passando em frente a minha casa!".
A princípio não a reconheci. Mas comecei a olhar para aquele rosto e minha retentiva velha e enferrujada dizia: "Eu já vi essa moça em algum lugar!" Mas era impossível, afinal eu estava a centenas de Km de São Paulo. A minha retentiva estava me pregando uma peça novamente, pensei.
De repente a jovem olha bem para mim e exclama: Ora, você é o Antigão cicloturista! E completou dizendo: Eu sou a Renata que estive na sua casa para pegar umas peças de bike!
Caiu a ficha!!! Foi um encontro memorável! Encontrar uma biker, cicloturista, amante da Natureza como nós, ali, naquela estrada era inimaginável!
A Rê colocou a sua casa a nossa disposição, mas pena que estávamos apressados, pois tínhamos uma longa jornada pela frente, antes do escurecer.
Conversamos um pouco e continuamos o pedal. A Rê nos informou que o asfalto recomeçaria a partir do Km 12. Isso era uma ótima notícia, pois subir a serra pulando que nem cabrito não estava no programa.
Fotos tiradas pela Rê.
Os cicloviajantes. Ao fundo a bela cachoeira.
Subidas e mais subidas. Parecia que a terra se inclinara para nos receber.
Opa, pera aí! Faz horas que estamos subindo, subindo e só agora aparece essa placa?! Será que vai ficar pior?
E ficou. Muuuuuuiiiito pior! Já não dava mais para pedalar. Só empurrando a bike naquela serra linda, mas animal. Nas curvas, em alguns momentos, quando o piso estava sujo, meu tênis escorregava e eu quase voltava de ré.
E ali nós fomos, um incentivando o outro. Parávamos um pouco, empurrávamos outro pouco e esses intervalos foram aos poucos diminuindo. Parávamos muito e empurrávamos pouco!
No meio da Serra água a se fartar. O lugar é lindo!
Acho que se eu estivesse sozinho, cansado como estava, montaria aqui meu acampamento.
Olha o que já subimos. É lindo né?!
Daqui do alto víamos pedaços de estrada serpenteando em meio a vegetação.
De repente, extenuados, ofegantes, com as pernas ardendo de tanto empurrar as bikes pesadas serra acima, como se houvéssemos lido o pensamento um do outro, nos jogamos sobre uma pedra enorme e deitamos. O Fábio dizia que o GPS marcava apenas 2,5 Km para o pico, mas as nossas pernas se recusavam a caminhar sequer mais um metro.
Por alguns minutos ficamos ali deitados sobre a pedra.
Um ônibus passou subindo em marcha reduzida. Acredito que não passava de uns 15 a 20 Km por hora. Ficamos cronometrando quanto tempo ele levaria para trocar de marcha. Isso nos daria uma ideia da distância de onde estávamos até o pico. Os minutos passaram, o som foi sumindo e desapareceu sem que houvessem trocas de marchas.
O Fábio, como soí acontecer, teve uma ideia brilhante: Preparar um almoço para revigorar as nossas forças. Precisávamos nos alimentar, pois havíamos gasto todas as nossas energias naquela empreitada.
O Gran Mestre Fábio no preparo do lauto almoço.
Havia galos cantando e galinhas cacarejando na redondeza. Há residências por perto. O Fábio comentou que uns ovos caipira deixariam o macarrão ainda mais nutritivo.
Não hesitei: Bati palmas na casa em frente e perguntei a uma jovem se ela vendia ovos frescos. Ela disse que sim. Pedi-lhe então que nos vendesse 2 ovos para complementar o almoço e dei-lhe 2 Reais. A moça não queria pegar, pois vende uma dúzia por 5 Reais. Insisti e ela acabou aceitando meio contra á vontade.
Assim nasceu uma deliciosa macarronada com ovos caipira e carne seca desfiada. Uma verdadeira iguaria!
Farta-mo-nos de macarrão, tomamos um café fresco, pegamos uma garrafa de água com a jovem que nos vendeu os ovos e retomamos a cicloviagem serra acima.
O Fábio ia na frente e não demorou muito, após uma curva ele gritou entusiasmado: "Fim, chegamos Antigão!"
Aí corremos pro abraço emocionados. Foram 7 horas empurrando as bikes serra acima!
O visual era fantástico! As nuvens ao nosso lado não deixavam dúvidas: Estávamos no topo da Serra da Bocaina!
O local é conhecido como Mirante. Ali era o último ponto onde poderíamos contatar as nossas famílias via celular. Agora iríamos descer uns 7 Km do outro lado da serra, até o Camping Chez Bruna. Avisei a "Dona da Pensão" que ficaria incomunicável por uns dias.
Depois de 7 Km de pedras, barro e cascalho, descendo bem rápido, pois a tarde estava quase dando lugar à noite, chegamos no Camping Chez Bruna.
Corremos montar as nossas barracas enquanto ainda era dia, para depois então tomarmos um banho quente e revigorante.
O pedal de hoje. Bom, meio pedal meio "empurral". Dê uma olhada na altimetria.
Enfim, com a graça de Deus, após 141,250 Km pedalados havíamos atingido o nosso objetivo.
A Bruna, que está no Sertão da Bocaina há muitos anos, bem como outros locais, foram unânimes em dizer que nunca viram cicloturistas na região. Portanto, daí o título de Ciclotur pioneiro pelo Sertão da Bocaina.
Mas o relato ainda não termina por aqui, não! Ainda tem sábado e domingo! Ainda tem a caminhada até a Usina abandonada, a aventura do Fábio até a Pousada abandonada e... assombrada? ASSOMBRADA?!
E muito mais.
6 comentários:
Me acabei de rir com os pulos do cabrito! hehehe
Esse verde, as cachoeiras, tudo é muito lindo. Vontade danada de pedalar por essas rotas!
Olá, Jac, obrigado pela visita e comentário! Quando quiser pedalar por aqui, não se acanhe e venha nos honrar com sua visita. A nossa humilde casa está a sua disposição. Abraços.
Fala, Waldson.
Amigo, nessa você realmente se superou, viu? Tanto no desafio de escalar um montanha com a bike carregada, como no pionierismo e, principalmente, na escolha do lugar. A Serra da Bocaina é simplesmente magnífica, e já tive a oportunidade de passear por lá várias vezes de motocicleta, mas de bike... não há comparação!
Essa aventura de vocês só serviu para me deixar convicto de que um "raid" de Juiz de Fora até o Chez Bruna é não só viável - pois já tracei o percurso no Google Earth - como executável e bem bacana. Só me falta mesmo uma MTB montada.
Se fosse editor de algum jornal ou revista especializada, contratava você para planejar, executar e depois relatar viagens de cicloturismo pelo Brasil. Você faria belas reportagens e eu, aproveitando a sua experiência na estrada, faria belíssimas fotos, kkkkk...
Gostei - e mostrei para patroa - a expressão "dona da pensão", kkkkkkkkkkk... muito gaiato!
Grande abraço.
PS: Se tiver mais... poste.
Quando se pedala em dois ou em grupo é imprescindível a coesão. O Fábio é um excelente companheiro que deixa isso bem claro pelas suas atitudes. Nós nos damos bem e isso faz com que haja progresso e uma maior sintonia.
Honestamente cicloturismo requer que deixemos as mordomias de lado e nos lancemos de corpo e alma numa aventura, onde pode haver o risco de algum problema, reconheço, mas o final é sempre a sensação de vitória e pioneirismo.
A preocupação com os "aposentos" deve ser deixada em casa, pois nessa temos quarto, suite, cozinha com micro ondas, etc. Quem quer fazer cicloturismo de verdade pode muito bem abrir mão disso. Senão, é apenas trocar o carro pela bicicleta, só isso. Quanto ao dormir, neste caso acredito que há a possibilidade de optar por barraca ou uma boa pousada. Mas penso que, se o sujeito estã numa carretera austral, quero ver achar uma "pousada" para passar a noite! O cicloturista deve estar preparado para tudo.
Parabéns Fabio e Waldson, muito legal
ver esse entrosamento de voces.
Antigão, esse seu segundo relato está
tão bom quanto o primeiro.
Fotos fantásticas! E essa sua última foto
lavando bicicleta numa bica, fará muito
sucesso.
[]s Gilmar
Só tenho que parabenizar vc e seu companheiro pela bela cicloviagem!!!! Espetacular!!! e Pioneira!!!
Imagino o esforço das grandes subidas, empurradas, e o prazer final da realização...Isso literalmente não tem preço!!!!!
Parabéns!!! Abs!!!
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