segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ilha do Mel uma verdadeira cicloaventura II

De Cananeia a Ilha do Cardoso via Estrada do Ariri.

Clique para ver no Google Maps
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O dia amanheceu chuvoso. Levantei cedo, embora houvesse deixado as coisas mais ou menos arrumadas na noite anterior.
O Valmir do Casal Pedal marcou de chegar á pousada por volta das 7 horas. Esta seria a hora da saída.
Chegou pouco antes e eu já estava a sua espera. Tomei apenas um café e saímos pedalando em direção á Balsa que nos levaria ao Continente.

Tiramos algumas fotos do Portal de Cananeia.



Pegamos a Balsa das 8 horas em direção ao continente.



Logo estávamos pedalando na SP-226.



O Valmir é um apaixonado por cicloviagens como eu. Assim, juntamos a fome e a vontade de comer e uns 5 ou  6 Km depois chegávamos a saída para a Estrada do Ariri (No Google Maps é Estrada Municipal Rio Vermelho- Morretes ou Estrada Municipal rio Vermelho - Ariri). Trata-se de uma estrada um pouco mais suave que a Estrada do Telégrafo, com a qual se encontra em determinado momento.




Á primeira vista, embora de terra batida, parece um tapete, mas...



Nesta foto já dá para ver as primeiras poças de água. E olha, chovera bastante nos últimos dias!




Mas cicloviajantes destemidos e determinados não se assustam com um pouco de lama. Um pouco???  Bom vamos a frente.




Logo chegamos ao Quilombo Mandira onde paramos para fazer algumas fotos.






 Ruínas á beira da estrada.



De vez em quando aparece alguma casinha perdida na imensidão do verde sem fim. Algumas povoadas, outras totalmente abandonadas.



Logo percebemos as centenas de Mutucas que nos seguiam, perseguiam e nos picavam impiedosas e dolorosamente. Olhávamos um para o outro e não acreditávamos naquela nuvem de mutucas que pairava sobre nossas cabeças. Eu batia com um pano tentando afugentá-las enquanto pedalavamos, mas elas não desistiam. Queriam nosso sangue a todo custo!
Era até engraçado - se não fosse trágico - irmos pedalando e ao mesmo tempo matando mutucas a tapas ao longo do caminho. Era um tal de "pá!" matei FDP! Ou "Essa não pica mais ninguém!". Ou ainda, "maldita mutuca FDP!" Agora, fazendo esta narrativa e lembrando do fato, estou dando risada, mas na hora era extremamente irritante.

A estrada é linda, com muitos pássaros cantando ao longo de nossa cicloviagem. A Araponga com seu canto peculiar era ouvida desde longe.

Ao mesmo tempo aquele misto de chuva e mormaço me deixava com uma sede incrível. Eu tomava caramanholas mais caramanholas de água e não me satisfazia. Logo minha água acabou e uma garrafa que o Valmir me emprestou também foi consumida. Sorte que o sol não estava tórrido, mas mesmo assim eu estava tomando muita água.




Paramos á beira do rio, mas não dava para chegar até sua margem. Havia muita lama e mato. Eu já pensava em amarrar a caramanhola a um fio de varal que trazia comigo, quando o Valmir disse que logo mais á frente havia uma escola onde poderíamos encontrar água potável. Beleza, eu aguardaria a chegada dessa tão almejada escola.



Se não me falha a retentiva este é o Rio das Minas, pois foi alvo de garimpo no passado, 
daí o seu nome.





Ora, ora! Alguns Km de cascalho! Benzadeus!!!



Descemos uma descida cascalhada e eu aproveite para voar baixo. Passei pelo Valmir e ele gritando "Olha a cobra!", "Olha a cobra!", "Você quase passou por cima dela!". Era uma cobra verde, mas enorme! Dá para ver na foto abaixo. Ficamos ali olhando aquela enorme serpente  atravessar a estrada tranquilamente e desaparecer no meio do mato.



Bikes largadas no meio da estrada.




E não é só cobra! Olha só o tamanho desta aranha!



A escola, graças a Deus, vou matar a minha sede e encher as caramanholas!



Ledo engano! A escola estava fechada e nenhum sinal de água! Nem torneira, nem poço, nem bica, só a sede que me maltratava.
Logo adiante, no meio dessa lama uma casa. O Valmir disse que tinha gente, pois ele vira alguém se mover no interior da mesma. A casa ficava bem ao fundo, longe da estrada.
Gritamos, batemos palmas e uma senhora, seguida de algumas crianças apareceu.
- Queremos água, por favor, pode no arrumar? Gritamos lá do portão.
Coitada da senhora, sai de lá dos fundos com um caneco na mão. Comentei com o Valmir que aquele caneco de água nem mataria a minha sede, quanto mais encher as nossas caramanholas, todas vazias!
Enquanto aquela senhora vinha vagarosamente em nossa direção, combinamos que pediríamos a ela para adentrarmos á casa e enchermos as caramanholas. Assim o fizemos.
Ah, que delícia, água fresquinha e limpa!
Agradecemos e fomos embora no meio da lama com as nossas fieis companheiras: As mutucas!






Neste ponto há uma bifurcação na estrada. Em frente seguimos para o Ariri, nosso destino. Para a direita a famosa Trilha do Telégrafo, que segue para Guaraqueçaba.



Perdi minha luva! O Valmir ficou me esperando enquanto saí para resgatar a luva que caíra enquanto nos abastecíamos de água. Achei e voltei rapidamente.



Neste ponto, faltando ainda uns 30 Km para chegarmos ao Ariri, encontramos o jovem cicloturista Lucas (de chapéu de palha), oriundo da Argentina. Saíra de Buenos Aires em busca de aventura, com uma bike simples, pretendendo chegar ao Rio de Janeiro, onde encontrará a sua namorada e encerrará sua cicloviagem.
Dividiu conosco uma penca de bananas maduras que trazia na mochila.

Parabéns ao Lucas pelo seu destemor. Que Deus o acompanhe!

O Valmir e o Lucas.




Mais um pouco de estrada. Ora caia uns pingos, mas chuva forte nenhuma.



Após 60 Km de terra, cascalho e lama, chegamos ao Ariri.


Igreja na Vila do Ariri.



Mal chegamos no trapiche e o Valmir avistou uma pessoa que estava lavando um barco. Era o Júnior um velho conhecido dele. Conversaram e acertaram a nossa travessia por R$ 30,00 enquanto um desconhecido nos pedira R$ 50,00 para fazer a mesma travessia. 
O Júnior nos deixaria numa praia da Ilha do Cardoso e nós seguiríamos pedalando mais uns 5 Km para chegar na Vila do Marujá.

Na prainha do canal, atravessamos uma trilha e saímos na Praia já do lado do marzão. Colocamos as bikes na areia mais dura da praia e seguimos em direção ao Marujá. O vento forte e contra não nos ajudava muito e o pedal rendia muito pouco.



Caranguejo conhecido como Maria Farinha. 




Um pouco cansados, mais felizes, alguns kms adiante avistamos um pescador e perguntamos onde ficava a trilha para o Marujá. Ele nos indicou uma casinha abandonada mais adiante, onde havia uma trilha para o Marujá. Pedalamos mais um pouco e chegamos a trilha. Fomos empurrando as bikes, pois a areia fofa da trilha não nos permitia pedalar.





Chegamos ao Marujá!

Agora precisávamos arrumar um local para ficarmos, tomarmos um banho e jantar.
Conversamos com o José Maria que tinha um Camping nos fundos de sua casa e tomava conta de uma pousada. Ficar na pousada se mostrou inviável, pois o mais barato que ele fez foi R$ 35,00 per capita. Estávamos equipados com barracas e tudo o que envolve acampar assim ficamos no Camping por R$ 10,00 a diária.
Tratamos logo de montar as nossas barracas, pois a noite não demoraria para chegar.



Bikes devidamente "amarradas" á árvore, com cadeados.




Agora um belo banho quente, aliás muito quente para mim que gosto de banhos mornos, em chuveiro a gás. Na Ilha só há luz de geradores. Na casa do José Maria o gerador é ligado ás 18 horas e desligado ás 22 h.
Para o jantar, conseguimos o restaurante da Dna. Valdete por R$ 20,00. Comida farta e deliciosa! Ela nos avisou que faria café da manhã para nós por R$ 5,00 por pessoa. Café, leite, pão caseiro, manteiga e geléia. Concordamos na hora em tomarmos o café no restaurante.

O Valmir teria que voltar para Cananeia na Balsa do dia seguinte, pois tinha plantão a noite no trabalho e não poderia faltar. A Balsa partiria por volta das 8 da manhã.

Ficamos batendo papo com o pessoal local até algumas horas, mas vencidos pelo cansaço fomos dormir.

Na manhã seguinte quando acordei o Valmir já estava terminando de desmontar a barraca. Arrumou todas as coisas e fomos tomar o café da manhã. E que café! Um pão caseiro saborosíssimo!

Na hora do Valmir embarcar notei que tinha esquecido a câmera fotográfica e voltei para a barraca para encontrá-la. Demorei e ouvi o apito da Balsa. Corri, mas quando cheguei ao trapiche a Balsa já se afastava em direção a Cananeia.
Fiquei muito aborrecido por minha estupidez, pois era melhor estar no trapiche para me despedir do grande amigo e companheiro de viagem do que umas meras fotos. Tarde demais.




Fiquei triste com a despedida, pois tenho certeza que devo boa parte do êxito de minha cicloviagem ao Valmir, que me ajudou sobremaneira na logística para chegar até aqui e seguir adiante. Obrigado companheiro!

Logo começou a chuva mais forte, que me obrigou a jogar a lona plástica sobre a barraca. Improvisei até uma "varanda" para não abrir a porta diretamente na chuva.


Árvore com o cotovelo no toco. Eta folga!



Olha só o tamanho do tijolo antigo.




Antiga mercearia local.


Placa informativa sobre a Ilha.






Passei o dia entre andar um pouco quando a chuva parava e dentro da barraca quando a chuva apertava. Houve momentos que a chuva era muito forte, com muito vento.




A Natureza ajuda o homem em todos os sentidos.



As "ruas" na Ilha.






Tentei me aventurar na praia, mas o mar estava muito bravo e a chuva voltava intermitentemente. Assim, almocei e dormi a tarde inteira ouvindo a chuva cair sobre o plástico da barraca.



Não havia turistas na ilha, pois ainda estava fora da temporada. A chuva também estava espantando a tudo e a todos. Planejei sair na manhã seguinte para a Ilha do Superagui. Só esperava que não chovesse.

Precisava arrumar um pescador que me atravessasse. Não estava propenso a pedalar pela praia até o pontal da ilha, para então fazer a travessia. O tempo não prometia nada bom para o dia seguinte. Melhor seria sair de barco direto do Marujá e desembarcar na outra Ilha, já no Paraná.


Consegui o Sr. Salvador que mesmo aos 72 anos continua transportando turistas e fazendo carretos para os habitantes locais. Acertamos a travessia por R$ 40,00. Um preço mais que justo já que se tratava sair do Marujá e seguir até o Superagui; Uma hora e 10 m de barco.

Na manhã seguinte tomamos o café e saímos por volta das 8 horas. Eu acertara em cheio sobre a previsão do tempo. Estava caindo uma chuvinha fina e perene.




Visão ao longe da Cidade Fantasma. Assim chamada pois foi abandonada pelos moradores locais em função das marés que estão a cada dia diminuindo a ilha.



O canal não estava tão agitado e á medida que o barco avançava em direção ao pontal do Cardoso a chuva ia diminuindo até que parou completamente.




O pontal da Ilha do Cardoso e do outro lado a Ilha do Superaguí, no Estado do Paraná.



Foi um sufoco para desembarcar. O desembarque foi feito numa ponta da Ilha, mas no mar e não no canal. O mar estava agitadíssimo e o Sr. Salvador não conseguia controlar o barco para um desembarque perfeito. As fortes ondas o levavam em questão de segundos para o mar aberto. Eu entrei na água e fiquei esperando um momento que o Sr. Salvador pudesse descer a bike, mas as fortes ondas empurrava o barco e queria me derrubar. Foi difícil, mas conseguimos. Coloquei a bike na areia e quando olhei para trás o Sr. Salvador já estava longe. O mar o levara rapidamente. Apenas acenei em despedida.


Numa praia deserta do Superaguí.



Bom, aqui começa uma nova etapa. Agora é pegar a areia dura da praia e pedalar uns 30 a 35 Km até o povoado e o trapiche local, onde há os pontos de travessia para a Ilha das Peças.

Não perca, Ilha do Superagui, 35 Km de praias desertas e muita emoção.




Por ora, muito obrigado pela visita e um  grande abraço do...




2 comentários:

PEDALADAS. disse...

"Não perca, Ilha do Superagui, 35 Km de praias desertas e muita emoção."

Imagina o que vem pela frente, pois as duas etapas até agora já foram cheias de emoção.
A cena da cobra foi igual a nossa durante a viagem. http://www.pedaladas.com.br/imagens/posts/post101/18.jpg

Um abraço e parabéns.
Marcelo

Elton Xamã disse...

hola, chamigo!
só hoje consegui ler o blog!
... e já vou passar para o capítulo seguinte, sem delongas kkkk
abraços e parabéns!
Elton Xamã