Olá, meus amigos e minhas amigas!
Há quanto tempo vocês não me vêem por aqui, hein?!
Ocorre que, por impedimento médico, devido a hérnia inguinal que me acometeu, fiquei impedido de pedalar ou fazer qualquer outro exercício mais exigente. Há pouco tempo atrás, visitando outro consultório médico a Dra. sugeriu que eu fizesse exercícios leves. Pedalar, segundo ela, seria possível apenas se eu não tentasse subir grandes subidas pedalando. Disse ela: "Nas subidas, Sr. Waldson, desce da bike e empurre".
Ora isso me animou, mesmo porque estou usando uma funda que ajuda bastante, até que seja possível partir para uma cirurgia.
Funda para hérnia inguinal
Asim, na noite do dia 30/04/2017, arrumei a tralha rapidinho, joguei nos bagageiros da Nanika e me preparei para sair no dia 01/05/2017, feriado.
Nanika preparada.
Passava um pouco das 4 horas da manhã quando eu saí de casa. A madrugada estava convidativa e eu estava ansioso e entusiasmado. Fazia mais de 1 ano que eu não fazia uma cicloviagem! Meu plano era pedalar até a Estação Carrão do Metrô, pegar o metrô até a Barra Funda e de lá seguir de ônibus da Viasul até Ilha Comprida, onde eu pretendia ficar uns dias. Da Ilha Comprida pedalar pela areia da praia até Cananeia e de lá retornar de ônibus para São Paulo.
Assim o fiz. Farol e lanternas traseiras acesas, peguei a Rua Inconfidência Mineira, um descidão que eu venci rapidamente. Na Av. Rio das Pedras tive que me conter, pois minhas pernas queriam fazer uma média alta e eu sabia que tinha que me conter, pois estava muito tempo parado e isso poderia trazer consequências desastrosas para minha cicloviagem.
Eu escolhera pedalar pela praia exatamente por ser terreno plano; não queria estragar o pedal.
Estação e Terminal Barra Funda.
Corri para o guichê de venda de passagens e tive uma surpresa desagradável: O ônibus saíra ás 5: 30 hrs. e eram 5:45. Pior, o próximo ônibus para Ilha Comprida só ás 10:30 da manhã!!! Voltar para casa, desistir, nem pensar!!! Isso não faz parte da política de cicloviagens do Antigão!
Resignei-me e fui para um trailer de lanches do lado de fora do terminal.
Lá encontrei o senhor Ney, peão do trecho, como nós classificamos essas pessoas quase nômades que conhecem de tudo, muito experientes. Ah, não prestou! Entramos numa troca de experiências, pois modéstia à parte também já corri o trecho. Fui menino da roça, de fazenda e até menino carvoeiro. Catador de recicláveis na rua, etc. etc.
As horas passaram que nem percebi! Quase perdi o horário do ônibus, tão boa estava nossa prosa.
Colocamos a Nanika dobrada no bagageiro e o ônibus saiu do terminal no horário. Algumas horas depois eu já estava no Camping do Chalé, sendo recebido pelo Senhor Sílvio, um amigo de longa data. Gosto desse Camping, pois além do Sr. Sílvio ser uma pessoa formidável no atendimento, o Camping é pequeno e sossegado. Além do mais, fica no centro, próximo a tudo.
Montei minha Falcon 2, minha "mansão" que me acompanha há anos.
A Falcon 2 da Nautika montadinha, pronta para acolher o Antigão.
A Nanika. Minha aro 20", dobrável de cicloturismo.
O dia passou normalmente. Caiu a noite e eu resolvi pedalar um pouco na Av. Beira Mar. Estava empolgado e, ao invés de ciclopassear em baixa velocidade, optei por pedalar forte, socando a bota, como dizemos, na avenida, Ia na direção do bairro de Pedrinhas quando resolvi entrar numa rua á direita parar retornar. Na velocidade que eu vinha, não freei e entrei já na contra-mão em alta velocidade. Aí aconteceu o pior!: Na entrada da rua havia uma depressão! A roda aro 20" entrou na depressão e eu voei da bike. Bike para um lado, Antigão para o outro. Para não bater o rosto no asfalto, joguei os cotovelos no chão. Consequência, os cotovelos ficaram sem os couros. Ainda bati o o peito no chão. Duas senhoras que pedalavam de boa e que eu havia ultrapassado momentos antes, vieram em meu socorro. Como eu estava com sangue saindo dos cotovelos elas queriam chamar o SAMU, mas eu recusei o atendimento alegando que estava bem, não obstante meu peito doesse um pouco. Então elas perguntaram onde eu morava e eu expliquei que estava acampado na Rua Tampico, no Camping da Família. Como elas viram que a Nanika é dobrável, então insistiram em chamar um taxi que me levaria de volta, algumas quadras apenas. Aceitei e o motorista do taxi me ajudou a colocar a bike dobrada no porta-malas.
Já no Camping, após lavar os ferimentos, eu queria sair para jantar, mas o Sr. Sílvio gentilmente ,como lhe é peculiar, preparou e me ofereceu um suculento pratasso de comida! Um jantar delicioso que eu devorei em poucos minutos. Interessante que dias atrás eu dissera a minha esposa que estava com vontade de comer cuscuz e, no jantar oferecido pelo Sr. Sílvio, havia um generoso pedaço de cuscuz!
Parece que essa cicloviagem se caracterizou pelo aspecto gastronômico. Vocês verão adiante.
No dia seguinte precisei deixar o Camping. Iria seguir para Cananeia via areia da praia. Uns 60 Km de areia dura pedalável e o marzão com toda a sua beleza e imponência à minha esquerda.
Desmontei tudo, preparei os alforjes, despedi-me do Sr. Sílvio e saí pedalando de boa em direção ao bairro de Pedrinhas, onde a gente faz o acesso ás praias.
Av. Beira Mar no sentido Pedrinhas.
Uma City no caminho.
O acesso á areia da praia.
A praia. Mais de 50 Km de areia e mar.
Antigão, com cara de cansado, tirando uma selfie.
Continuei pedalando. Não estava cansado, mas estava sentindo um pouco de dor nas pernas, principalmente coxas e panturrilhas. Resolvi então descansar um pouco e aproveitar para tomar um lanchinho á la cicloturista: Pão com sardinha de lata!
Enquanto comia, prestava atenção na paisagem. Um céu lindo e maravilhoso se perdia no infinito. Apenas alguns pássaros e gaivotas me faziam companhia ao longe.
A paisagem calma e tranquila contrastando com o barulho do mar.
Mas, como na vida sempre tem o "mas", nem reparei de onde surgiu o cãozinho famélico para me acompanhar no lanche. Acho que ele sentiu o cheiro do pão com sardinha.
O pretinho surgiu do nada abanando o rabinho e deitou ao meu lado, coitado!
Dividi com ele meu lanche, que ele devorou com muita avidez. Pena que eu não tinha comprado muitos pães, haja vista que eu iria almoçar em Cananeia.
Pretinho comendo um pão que eu passei na lata de sardinha.
Despedi-me do pretinho e saí pedalando. Logo começaram as cãibras. Nossa, cãibras muito doloridas nas coxas e panturrilhas! A dor era tanta que eu já estava cogitando parar por ali mesmo, montar a minha barraca, passar pomada nas pernas e descansar. Poxa, eu escolhera uma cicloviagem á beira mar exatamente por ser um terreno plano, onde eu não seria muito exigido, pensei. Agora ali estava eu sentindo as dores lancinantes nas pernas. O problema que as cãibras deixam sequelas: No dia seguinte, normalmente as pernas doem mais que no momento da própria cãibra!
Continuei pedalando apesar do passeio já estar se tornando um tormento.
Foi então que avistei um quiosque ao longe. Tomara que esteja aberto, torci. Pois eu poderia parar um pouco, descansar e até pedir para acampar nas proximidades.
Cheguei no Quiosque Ubatuba.
Quiosque Ubatuba: A salvação da lavoura!
Cheguei e fui muuuiiito bem recebido! O Senhor Barros, dono do quiosque e seus convidados, Sra. Vívian e Sr. Francisco.
Entramos numa prosa e eu fui sincero ao dizer que estava com muitas cãibras. O Sr. Barros então disse: "Sr. Antigão, eu fecho ás 20 horas. O senhor pode montar sua barraca aqui e passar a noite sossegado. Tem banheiro, água e, como o senhor tem alimento no seu alforje, pode usar o fogão á lenha para preparar o seu jantar". Louvado seja Deus, pensei! Era tudo o que eu queria ouvir!
Conversa vai, conversa vem, perguntaram se eu havia almoçado e diante da minha negativa, fui convidado a comer uma Paeja de-li-ci-o-sa!!! Isso mesmo, uma Paeja! Comi, repeti o pratão e fiquei satisfeito.
Dona Vivian e Sr. Francisco.
Sr. Barros, ao lado da Nanika.
Fiquei de descer qualquer dia desses para pescar na praia. O Sr. Barros disse que eu serei muito bem recebido na casa dele, em Pedrinhas, se eu não quiser acampar no Quiosque.
O cicloturismo nos aproxima das pessoas do bem, graças a Deus. Durante esses anos de cicloviagens conheci muitas famílias formadas por pessoas maravilhosas que sempre nos recebem com muito carinho e atenção.
Passei uma tarde muito legal ao lado desses novos amigos.
Sr. Francisco e Dna. Vivian se despediram e o Sr. Barros fechou o quiosque. Montei a minha barraca. Aticei o fogo do fogão de lenha e preparei um lanche para a ceia, já que sobrara Paeja e eu acabei comendo, juntamente com outros pratos preparados por Sr. Barros e Dna. Vivian.
Minha "casa" montada no interior do quiosque.
A Nanika bem guardadinha no corredor dos banheiros.
Fogão de lenha. O fogo ajuda a espantar a solidão.
Meus companheiros da noite no quiosque.
Fiz amizade com o cachorro e a gata não queria sair do meu colo!
As coisas estranhas do Sr. Barros. Acho que é para espantar os maus espíritos. Melhor para mim, hehehe!
Tomei minha insulina, um comprimido de Dorflex e dormi como uma pedra. As pernas estavam inteiras, sem dores nem cãibras.
Acordei no dia seguinte ainda estava escuro. Peguei minha lanterna e, para não gastar a lenha do Sr. Barros, peguei lenha que o mar trás para a praia. Deixei o fogo acesso, pois não sei se ele usa o fogão de lenha para fazer o café da manhã.
Clareia o dia na praia.
Desmontei a barraca, desinflei o colchonete, dobrei tudo, ajeitei os alforges e joguei tudo no bagageiro da Nanika, não sem antes comer um pão com manteiga e tomar um chocolate. Eu sempre levo pão de forma, manteiga, leite em pó e achocolatado diet. Adoço com adoçante. Levo também café solúvel, caso dê vontade de tomar um cafezinho.
Logo o Sr. Barros apareceu com uma garrafa térmica cheia de café. Embora eu já tivesse tomado o café da manhã, não recusei um gole de café, pois seria deselegante de minha parte recusar o café que ele me oferecia.
Tomei o café e me despedi. Estava com as pernas em dia e já havia tirado o dextro e tomado a insulina. Agora era só pedalar devagar, sem forçar as pernas, até a Pousada Árvore do Amor, (atualmente com outra denominação. veja na foto abaixo) em Cananeia, onde eu pretendia me hospedar. Gosto dessa pousada pois fica fora da cidade, defronte ao canal que divide Ilha Comprida de Cananeia.
Uma flor exótica.
Parada para descanso. O medo das cãibras retornarem era grande!
Olha o Sombra aí. Ele estava tão ávido quanto eu por uma cicloviagem.
Confesso, foram várias as paradas para descanso. Não aconselho ninguém a ficar mais de um ano sem pedalar, como eu, e depois se lançar em uma cicloviagem sem se preparar fisicamente. Em julho próximo, se der tudo certo o que estou aguardando, pretendo cicloviajar. Mas, com certeza vou treinar o mês de junho inteirinho para isso.
Continuei o pedal e logo cheguei na balsa. Enquanto aguardava a chegada da balsa, aproveitei o calor para tomar uma coca zero.
Logo estava em Cananeia e cheguei são e salvo na Pousada.
Como eu disse acima, essa foi uma cicloviagem gastronômica. Logo que cheguei, feitas as apresentações, fui convidado a participar de uma churrascada, que estava acontecendo ao lado da piscina. O Júlio e sua família, mais convidados, estavam churrasqueando. Um gaúcho, amigo da família, morador de Curitiba, estava cuidando do churrasco.
Comi bastante, confesso.
Cicloviajar também é lavar as roupas sujas.
Que pena que estava chovendo!
Gostei deste arranjo.
A paisagem na frente da pousada.
Fiquei três dias na pousada e, no segundo dia resolvi patrocinar uma mega macarronada á todos. Fomos ao centro e eu comprei todos os ingredientes. Preparei uma macarronada á bolonhesa que agradou a todos, com certeza.
Provaram dos meus dotes culinários a Dna. Jô, proprietária da pousada. O Fábio, o Fernando e o Meck. Todos gentes super finas. Segundo eles a macarronada vai ficar na história.
Choveu muito nos dias que por lá estive. Nem deu para fazer uns pedais pela cidade. Apenas um dia mais seco resolvi fazer uma caminhada até o Bradesco para sacar uns trocados.
A zoeira.
Este é o Toy, um cãozinho muito legal.
Enquanto eu descansava, o pessoal estava decorando a pousada para uma festa que iria ocorrer nos próximos dias. Aliás me convidaram para voltar lá e participar da festa.
O descanso estava muito bom, mas eu precisava voltar para casa e rever a minha família,
Assim, no quarto dia, depois de descansar bastante, despedi-me de todos e peguei um taxi para a cidade, onde eu pegaria um ônibus para São Paulo. Mas, como sempre existem os "mas", só haveria ônibus depois das 11 horas. Contratei o mesmo taxi que me levara até ali para me levar á Pariquera-Açu onde eu poderia pegar o ônibus da Viação Cometa para a Rodoviária do Tietê. Morri com R$ 120,00 e, como não reservei a passagem com a devida antecedência de 24 horas, paguei também a passagem do ônibus.
Normalmente da Rodoviária do Tietê saio pedalando e chego até em casa. São quase 20 Km. Mas desta vez eu estava preguiçoso, cansado e ainda preocupado com as dores provocadas pelas cãibras. Peguei outro taxi na Rodoviária que me deixou no portão de casa. Essa é a vantagem de cicloviajar com uma bike aro 20", dobrável. Os taxistas adoram!
Nos dias seguintes, já em casa, tive muitas cãibras noturnas. Cãibras tão fortes de chorar de dor, principalmente nas panturrilhas. Ainda não estou 100%. Tomo diariamente um copo de isotônico, pois, devido ao diabetes, não me é recomendado comer banana nanica. Ademais, segundo a pesquisa que fiz, além dos carboidratos, a banana fornece pouquíssimo material como potássio e outros. Os isotônicos são melhores nesse aspecto.
Assim, terminou mais essa cicloviagem que, além de arrancar o couro dos meus cotovelos e quase me matar de cãibras, me trouxe o prazer e a alegria de conhecer novas pessoas. Os cotovelos já estão restabelecidos, as cãibras já passaram, ficou a felicidade de ter cicloviajado, de ter sentido o vento no rosto depois de quase um ano e meio de ausência dos pedais.
Assim que eu terminar a pintura que estou fazendo na minha casa, volto a treinar para cicloviajar no mês de julho, então férias dos meus netos.
Obrigado Senhor Deus por ter me proporcionado mais essa aventura!
Um Mega cicloabraço do