Acredito que todos os cicloturistas são unânimes em afirmar que a cicloviagem começa bem antes de se colocar a bike na estrada.
As escolha do roteiro, o preparo da bike, todos os preparativos criam um clima de euforia e prazer poucas vezes sentido.
É bem diferente de quando nos propomos a viajar de carro, trem ou avião. Viajar de bike traz consigo um componente a mais que nos deixa num misto de euforia e apreensão, um duo de sensações de medo e coragem. Esse componente não é outro senão o espírito de aventura. Qual é o cicloturista que ainda não experimentou o famoso “frio na barriga” antes de uma cicloviagem? Mesmo os cicloturistas mais experientes, que acumulam milhares de Km rodados, relatam o “frio na barriga” quando estão se preparando para uma nova cicloviagem.
Confesso, sou apaixonado por essa sensação! Nada me faz tanto bem do que programar e fazer uma nova cicloviagem! Acho que sempre gostei de aventuras. Aliás, a minha vida já foi uma aventura, pois perdi meu pai aos 12 anos e vivi praticamente sozinho daí para frente. Mas isso é outro assunto.
Descansando e se reidratando – Serra do Mar - Bertioga – SP
Gosto de fazer pedais autônomos. Embora eu faça algumas refeições em restaurantes, hotéis ou pousadas, na maioria das vezes preparo eu mesmo o meu café da manhã e o jantar. Gosto também de acampar, ao invés de ficar em hotéis ou pousadas. Essa prática além de me deixar mais próximo da natureza, também trás alguma economia em dinheiro. E, consequentemente, a economia em dinheiro permite que eu vá mais longe em minhas cicloviagens. Contudo, o pedal autônomo faz com que o biker transporte mais peso, pois barraca, colchonete, fogareiro, alimentos e itens de cozinha contribuem com bastante peso no total da bagagem.
Preparando o jantar em espiriteira a álcool – Camping Morada dos Colibris – Boiçucanga – São Sebastião-SP.
Preparando o próprio alimento:
A questão do preparo do próprio alimento é bastante relativa, haja vista que cada um gosta e/ou pode comer determinado alimento. Neste caso, vou me basear no alimento que costumo preparar.
O primeiro passo é ter um fogareiro ou uma espiriteira. Eu possuo ambos, um fogareiro modelo Trail da Nautika e uma espiriteira a álcool que eu mesmo confeccionei.
O fogareiro Trail da Nautika usa cartuchos de gás de 190 gr. Cada cartucho dura em torno de 3 horas aceso ininterruptamente. Assim, dá para fazer várias refeições rápidas com um único cartucho de gás.
Fogareiro Trail da Nautika com cartucho de gás.
Cartucho de gás butano para fogareiro Trail.
A espiriteira usa o álcool como combustível. O álcool pode ser o comum vendido em supermercados de um modo geral ou o etanol, vendido em postos combustíveis ao longo das estradas e rodovias.
Espiriteira a álcool.
(Clique p/ ver Confeccionando uma prática espiriteira)
Vantagens e desvantagens:
O gás butano é mais seguro para ser usado e transportado e não preteja os utensílios de alumínio. Porém é mais difícil de ser encontrado. Somente em grandes lojas de caça , pesca e camping podem ser encontrados. Depende da distância e locais a serem percorridos na cicloviagem é interessante levar mais de um cartucho. No caso de usar o fogareiro Trail, convenhamos que este ocupa mais espaço nos alforjes do que a espiriteira a álcool.
O álcool é mais perigoso de ser transportado, pois pode facilmente vazar e provocar incêndios, mas pode ser encontrado em praticamente qualquer posto de combustível, vendas ou bazares. O grande inconveniente é que esse combustível preteja os utensílios de alumínio mais que o gás.
Uma vez definido o tipo de fonte de calor a ser usado, vem então a questão dos alimentos.
Eu uso bastante o macarrão instantâneo, porém sempre faço algum complemento, tais como linguiça defumada, sardinha em lata ou atum. Existe no mercado arroz em pacotes de 1 Kg que não precisa ser escolhido ou lavado, bastando apenas acrescentar-lhe água, sal e tempero para ficar pronto. Atualmente nos supermercados podemos encontrar vários alimentos em embalagem Tetra pak, como feijão e vários tipos de legumes. Esses alimentos só precisam ser aquecidos para serem consumidos. Até feijoada e alho frito podem ser encontrados nos mercados de um modo geral.
Há também as sopas em pacotes ou copos que bastam ser aquecidas para serem consumidas. Assim, basta um pouco de conhecimento para preparar a sua própria refeição em poucos minutos.
Potes contendo leite em pó, café solúvel e achocolatado.
Café da manhã em Ilhabela – Camping Palmar
Normalmente fervo um pouco de água e preparo meu próprio café da manhã. Costumo usar café solúvel, leite em pó instantâneo, achocolatado e adoçante. Acompanho com torradas, bisnagas e alguma fruta.
Atualmente o cicloturista ainda dispõe de muitos alimentos liofilizados (O que é?). Não posso opinar sobre eles, pois, exceto café solúvel, nunca os usei, primeiro porque são mais difíceis de serem encontrados e também pelos seus altos preços.
O próximo item da autonomia é a acomodação.
Existem inúmeros modelos e tamanhos de barracas no mercado. A escolha é sempre difícil. Acredito que a escolha, além do espaço a ser ocupado, deve ficar a critério da região onde a barraca será usada. O Brasil tem dimensões continentais, assim uma barraca que é ótima para o Sul pode não ser ideal para o Nordeste. Há regiões mais ou menos quentes, mais ou menos chuvosas, enfim deve se levar em conta a região onde iremos usar a barraca.
Moro no Sudeste, considerada uma região de clima moderado. Uso atualmente uma barraca Falcon 2 da Nautika. Quando saí para compra-lá além da região onde ela seria usada, considerei ainda os fatores, peso, espaço e custo. O ideal é sempre uma barraca para duas pessoas, muito embora no meu caso o pedal seja solo. Numa barraca para duas pessoas posso colocar meu colchão inflável para dormir confortavelmente e ainda sobra espaço para os alforjes. Para mim o peso e custo estavam dentro do que eu havia projetado para me atender.
Colchão inflável ou colchonete. Já usei os dois e acabei optando pelo colchão inflável com fole embutido. Embora seja bem mais pesado que o colchonete, o colchão inflável é muito mais confortável e permite uma boa noite de sono, algo do qual o cicloturista não pode prescindir, depois de um dia inteiro de pedal. O fato de ter fole embutido favorece o acampamento em locais onde não há energia elétrica, ou o transporte de uma bomba manual, a qual ocupa muito espaço. Carrego comigo um lençol de solteiro com elástico, pois o veludo do colchão “agarra” no corpo ou na roupa, incomodando um pouco, atrapalhando a boa noite de sono. Pode-se acrescentar um travesseiro inflável á bagagem se houver necessidade.
Normalmente uso um isolante térmico em EVA aluminizado sob o colchão, a fim de me proteger da umidade e friagem que possa vir do solo.
Saco de dormir. Eis aqui outro item que traz muitas dúvidas no momento de adquirir, pois existem um cem números de exemplares e modelos no mercado. Aqui também acredito que deva ser levado em conta a região e quando (Estação) o mesmo será usado. Em regiões de clima ameno opta-se por modelos mais leves em regiões mais frias por modelos que suportem mais o frio e assim por diante. Eu uso um modelo Viper da Nautika. Já o usei numa noite de 0º Grau Centígrado, porém vestindo um agasalho de inverno, luvas, gorro e meias de lã.
Acredito que a gente deva ter dois modelos: Um para primavera/verão e outro para outono/inverno.
Finalmente as tralhas de cozinha. Eu não comprei as minhas tralhas desses jogos que são vendidos em lojas de Camping e aventuras. Eu mesmo montei as minhas tralhas. Comprei duas marmitas redondas de diâmetros diferentes, de maneira que eu as carrego encaixadas uma dentro da outra. Na mais interior eu ainda coloco meia pedra de sabão em barra e uma esponja de cozinha. Tenho ainda um cabo universal para panelas, pois as marmitas redondas não têm cabo. Isso faz com que ocupem menos espaço nos alforjes.
Cabo para panelas.
Um copo e um prato plástico, bem como um jogo de talheres completam o “serviço” de café, almoço ou jantar. Sal, café solúvel, achocolatado, leite em pó, azeite, etc. são acondicionados em frascos ou potes plásticos hermeticamente fechados. São leves e práticos. Não deixo de levar um canivete sempre bem afiado que acaba virando um “faz tudo” durante a viagem. O canivete deve ser de tamanho pequeno, para não se constituir em arma branca e ser barrado pela polícia.
Com essas dicas e um pouco de prática em cozer os próprios alimentos qualquer cicloturista pode fazer um passeio autônomo, sem depender de praças de alimentação, hotéis, restaurantes, pousadas, etc.
Sugiro que os Campings a serem usados durante o trajeto sejam pesquisados e contatados antes, na fase de preparativos. Isso evita surpresas desagradáveis, tais como estruturas totalmente desfavoráveis, campings sem segurança ou mesmo campings que só abrem em épocas de temporadas.
Quando necessário acampar fora das estruturas de um Camping o item segurança deve ser considerado ao máximo, dando preferência a locais próximos ou mesmo dentro de Postos policiais, Corpo de bombeiros, quintais ou garagens de pessoas de inteira confiança.
No mais, seja prudente mas nunca cultive o medo. Esse sentimento é totalmente contrário ao prazer que a prática do cicloturismo pode trazer ao ser humano. Se você é Cristão como eu, lembre-se sempre o que diz o Salmo 34:7 :
“O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que os temem, e os livra”.
Assim, pedale tranquilo, deixe o vento acariciar o seu rosto, sinta o prazer do contato com a Natureza que o Papai do Céu criou especialmente para você e…
Boa Viagem!
Bom dia!
ResponderExcluirSempre consulto o blog quando há alguma dúvida sobre qualquer assunto sobre cicloturismo.
Ontem fui à Cananéia com minha esposa e no retorno (ônibus) o motorista criou uma tensão sobre as bicicletas.
Enfim, vim consultar sobre a melhor forma sobre embarcar as bicicletas no onibus e me deparo com mais esse capítulo dessa "enciclopédia" de cicloturismo que o senhor criou.
Valeu!
Muita saúde e paz!
Boa tarde, muito legal seus relatos, estou sempre dando uma passadinha por aqui para ler algo novo, parabéns, só faltou um detalhe neste manual, como convencer a esposa a nos deixar ir, rssrrsr, um dia ainda consigo fazer uma viagem desta, brincadeiras a parte parabéns e muita saúde.
ResponderExcluirObrigado pela visita, Paulo Eduardo. Há um Projeto de Lei tramitando no Congresso que trata da normatização do transporte de bikes nos ônibus Interestaduais e internacionais. Esse projeto é de 2010. Mas, como tudo aqui no Brasil anda como lesma, vamos torcer para que ele saia da gaveta e vá para a pauta de votações. Obrigado pela visita e um grande abraço!
ResponderExcluirObrigado pela visita, Guipet. Então você está com dificuldades para obter o famoso "alvará", né? Todos nós sabemos como é difícil obtê-lo! Mas com calma e jeitinho a patroa acaba cedendo. Comece com pedais de um dia, depois de 2 dias e quando você menos esperar você estará fazendo pedais de uma semana com a aquiescência da esposa numa boa. Ou senão fique idoso e chato como eu que a patroa dará graças a Deus pela ausência! (Brincadeira!)
ResponderExcluirUm grande abraço!
Ola Waldson Gutierres (antigão),tudo bem!
ResponderExcluirprimeiro gostaria de parabeniza-lo pelo blog,o mesmo foi um achado para mim.
gosto muito de andar de bike e desde criança sonho em acampar.quando criança não tiver tempo ou melhor incentivo e oportunidade para fazer tal atividade. e hoje graças a deus procuro realiza-las e incentivo minha esposa e filha a embarcar junto.sempre que planejamos alguma viagem procuramos lugares onde possamos fazer alguma trilha ou algo do gênero.
já faz algum tempo que venho tentando convence minha esposa em irmos acampar,mas esta difícil,apesar dela gostar de atividades de contato com a natureza,não quer abrir mão do conforto de um hotel ou pousada.
vendo que o tempo não para e já na eminencia de tornar-me um "antigão"(desculpe-me pelo uso do termo)RS RS. resolvi que este ano irei realizar meu sonho de acampar.
então se possível gostaria de algumas dicas, sobre equipamento.
já vi alguma dica sua sobre adaptar a MTB para cicloturismo (muito boa por sinal).
Moro em Mossoro-rn e pretendo fazer o passeio pelas praias da divisa do estado com o Ceara.