Hoje pela manhã, mais precisamente ás 9:39 (horário que peguei a senha), estive no Tribunal da Inquisição Contemporâneo, vulgarmente conhecido no Brasil por Instituto Nacional do Seguro Social, cuja sigla é INSS.
Após ter passado uma noite de cão, com dores nas costas e pescoço; ter acordado no meio da madrugada para reforçar a dose de remédio, logo cedo eu estava passando pela porta detectora de metais desse moderno tribunal. Logo ao chegar áquela porta e ter que tirar todos os meus pertences do bolso, já comecei a me sentir um bruxo do século XXI.
O “Tribunal” estava lotado. Um enorme saguão repleto de pessoas, algumas indiferentes, aguardando a chamada para resolver problemas inerentes a aposentadoria e outras, adoecidas e acidentadas, tristes e cabisbaixas. Umas de cadeira de rodas, outras de muletas e até algumas ostentando belas bengalas em madeira envernizada e alumínio polido. Um luxo! deviam pensar aqueles que simplesmente como eu manquitolavam em direção a uma cadeira vaga, de olho no painel que após uma hora e meia de espera, com um fundo sonoro tétrico deveria apresentar o número da minha senha.
Algumas pessoas conversavam entre si. Falavam sobre a fé e a esperança em Deus, a única saída após passarem por inúmeras “perícias médicas” e terem seus benefícios indeferidos pelos “verdugos” de branco do “Tribunal”. Uma senhora exibia um documento do Posto Médico de seu bairro onde a sua pressão arterial era medida diariamente e sempre muito altíssima. Estava com problemas no coração, dizia ela, e aguardava uma vaga no INCOR para fazer um exame médico. Mesmo assim o Tribunal negara o seu auxílio doença. Sua interlocutora também reclamava que há 7 meses estava doente, mas sem receber o benefício que lhe fora negado.
Será que eu também iria para a “fogueira” do descaso e da indignidade?, perguntei-me em pensamento.
Me mexi na cadeira, pois as costas e a perna doíam bastante devido permanecer sentado. Olhei para a minha sacola de documentos onde havia uma pasta contendo o Laudo médico, o atestado do Fisioterapeuta, dentre vários outros exames médicos e laboratoriais.
O laudo acima é de março, pois o que eu levei hoje ficou retido. Mas basta acrescentar a data para abril e ao final do laudo o médico acrescentou uma micro cirurgia que foi executada para a remoção de um ponto que estava causando dores e fibroma.
A receita do remédio controlado que tomo regularmente para amenizar as dores: Tylex 30 – um comprimido a cada 8 horas.
Para quem como eu, dentre outras atribuições, trabalha fazendo visitas a clientes e prospects usando o veículo da empresa, vejam o que diz a bula do medicamento:
Estava imerso em meus pensamentos quando uma voz feminina gritou por detrás do balcão:
- Quem está aguardando para perícia médica, vai demorar um pouco, pois estamos sem sistema no momento!
Demorar um pouco?! Pensei. Como se tudo aqui no “Tribunal” fosse rápido! Quem dera nós segurados tivéssemos um tratamento rápido e digno!
As pessoas se remexiam nas cadeiras e respiravam fundo demonstrando impaciência e rancor.
O tempo passou, mas a dor que eu sentia nas costas não. Pelo contrário, aumentou devido ao longo tempo sentado. Levantei e fiquei em pé um pouco, aguardando o meu número de senha aparecer naquele moroso painel.
Bingo! Meu número apareceu! Comparecer á sala 5.
Dei dois toques na porta para avisar da minha chegada e abri a porta vagarosamente. Na sala pequena um jovem de semblante amarrado me aguardava. Olhava fixamente para o terminal de computador.
- Bom dia, doutor! cumprimentei. Mas o verdugo vestido de avental branco permaneceu calado.
- Bom dia! Insisti. E o verdugo, com cara de mau humorado, fazendo um grande esforço, murmurou baixinho: bom dia!
Em seguida pediu meu RG sem olhar para o meu rosto. Olhava apenas para o terminal de computador, como se ele fosse o paciente.
Perguntei se podia ficar em pé, pois não aguentava mais ficar sentado. O verdugo respondeu grosseiramente que eu poderia ficar do jeito que quisesse.
Pediu os laudos e eu os entreguei. Perguntou o que eu sentia e eu respondi: dor, muita dor, só dor, dor no local da cirurgia e na perna esquerda.
Examinou-me pedindo que me curvasse, mexesse a perna e eu o fiz gemendo, pois curvar-me ou torcer o dorso é o que mais provoca dores.
Perguntou se eu fizera algum exame recente e como eu me confundira com o monte de exames que tinha em mãos, frisou grossa e ironicamente:
- O Senhor não entendeu a minha pergunta! Quero saber se o senhor fez algum exame recente!!!
Entreguei-lhe alguns Raios X que o médico mandara eu tirar na última consulta. Ele os examinou rapidamente e em seguida disse que eu poderia me retirar e esperar nas “benditas” cadeiras do saguão, pois o resultado seria passado por uma das atendentes e esta me chamaria pelo nome.
Despedi-me e saí da sala pensando em como um sujeito tão jovem poderia ser tão mal educado e grosso. Um médico?! Em que universidade ele teria estudado? Será que ele estava revoltado por só ter conseguido uma vaga de trabalho naquele “Tribunal” fim de carreira? Ou fora obrigado pelos pais a cursar medicina quando gostaria de trabalhar em outra profissão? Veterinário, por exemplo.
E eu, pobre idiota, ainda ajudo a pagar o salário dele!!!
Voltei ao saguão e sentei-me ao lado de um jovem de cabeça baixa que parecia reclamar de dor na perna. Puxei conversa e ele comentou que estava com 8 perícias indeferidas. Não podia trabalhar e não sabia mais o que fazer da vida. Via-se que estava bastante deprimido. Comentou se referindo aos “verdugos” que “eles” deveriam tratar as pessoas com mais dignidade. Concordei. Seu nome foi chamado e eu lhe desejei boa sorte. Mas, pela cara que fez ao longe, quando a atendente lhe revelou o veredito, acho que foi para a 9ª perícia indeferida.
Fiquei pensando nas pessoas de espírito mais fraco, sem fé e desesperadas. Como essas pessoas reagem diante desse veredito? Creio até que muitos vão para o mundo do crime, drogas, álcool, pois imagine um pai de família doente sem poder trabalhar vendo sua família passando necessidade. Nem todos se submetem a receber uma cesta básica da sua Igreja ou Paróquia! Durante esse um ano que fiquei afastado do trabalho, fazendo perícias regularmente, ouvi muitas e muitas histórias de desespero, de pessoas que estão há meses sem verem um único centavo, sobrevivendo ás custas de familiares, vizinhos e cestas básicas doadas por entidades religiosas.
Esse é o fiel retrato do nosso povo humilde e batalhador, que depende do Seguro Social indigno, indiferente, o qual age como se todos os segurados fossem falsos e mentirosos e precisam provar, sem terem como, que estão doentes ou sentem dor. Enquanto isso alguns poucos privilegiados podem passar até anos se recuperando de um simples resfriado que nada lhes falta e custa.
Como as horas se passavam, as pessoas que chegaram depois se foram, fiquei indignado por não ter o meu nome chamado. Educadamente me dirigi a uma das atendentes e expliquei que estava ali há horas e o meu nome não fora chamado para o “veredito”. Ela pesquisou no sistema e pediu desculpas, pois houvera um problema no sistema e o meu comunicado não fora impresso. Mas, mesmo assim me adiantou que o pedido fora indeferido e, portanto, no dia seguinte eu poderia voltar ao trabalho. Agradeci e saí pensando que se eu não a tivesse abordado passaria a tarde ali, pois já passava do meio dia e meia e a minha barriga estava roncando de fome!
Voltar ao trabalho… ah como eu gostaria de poder atender a esse pedido! Mas como, se na maioria dos dias mal consigo me vestir pela manhã? E a dor sentida ao curvar-me para escovar os dentes? Como permanecer em pé no Metrô ou ônibus lotados? E nos momentos de crise, tomarei um comprimido e deitar-me-ei no piso do escritório para passar a dor? Muitas são as perguntas, mas poucas ou nenhuma as respostas. Os “verdugos” de branco deveriam ter as respostas, mas preferem ficar calados e manter os seus empregos no “Tribunal”. Afinal são funcionários públicos e têm um bando de bobocas chamados brasileiros, que são mal tratados, mas mesmo assim pagam os seus altos salários!
Esse é o Tribunal da Inquisição contemporâneo. Cheguei em casa, comi alguma coisa e fui tomar o remédio para amenizar a dor que eu estava sentindo. Certos medicamentos amenizam ou até curam as dores do corpo, mas nenhum deles pode curar a dor da alma, a revolta e o sentimento de descaso de nossas instituições. Essas só o amor de Deus resolve!
Ah, ia me esquecendo: Qualquer similaridade com os Tribunais Inquisitórios da Idade Média é mera coincidência! Afinal no século XXI não há uma fogueira real.
Obs.: Para quem não sabe, fiz três cirurgias de coluna, com artrodese lombar, onde foram colocados duas placas e quatro pinos de tungstênio. As cirurgias ocorreram respectivamente em 3/set/11, 24/nov./11 e 13/dez/11. Em março de 2012 foi realizado um pequeno procedimento cirúrgico para a retirada de ponto que estava sob a pele, provocando dores e fibroma. Infelizmente ainda sinto muitas dores e tenho meus movimentos bem reduzidos, não obstante as muitas sessões de fisioterapia que tenho feito.
Mas a fé em Deus continua firme. Sei que Ele proverá os meios para a minha subsistência.
Abraços do…
E diz a lenda que o Brasil já é a 6ª maior economia do mundo!!! Já tá na hora de parar de economizar e investir em seu povo!!!
ResponderExcluirAntigão, espero que se recupere logo!!!
Abraços do Loureiro
Olá Sr. Waldson,
ResponderExcluirInfelizmente, nós brasileiros, só temos o ônus (impostos, contribuição previdenciária, taxas, tarifas, etc) e na hora que precisamos do atendimentos que necessitamos e contribuímos somos tratados a pontapé. É triste ouvir da "Soberana" e dos petralhas que somos o 6ª país mas com atendimento e nível educacional de quarto mundo.
Venho acompanhando o seu tratamento e desejo melhoras e que a saúde r as pedaladas volte o mais rápido possível.
Um abraço!
Inominável a postura do tal médico. Mas o que importa mais do que isso, é a sua postura diante dessa adversidade,parabéns!
ResponderExcluirObrigada pela sua visita ao Longevidade, será sempre uma prazer recebê-lo.
abraços,
É queridos e queridas, a nossa estrutura social, exceto as pessoas simples e de bom coração, é composta de pura hipocrisia e propagandas demagogas.
ResponderExcluirQuando eu chamo os médicos "peritos" do INSS de verdugos, o faço porque eles encapuzam seus nomes e especialidades, ou permitem que isso ocorra, em franca corcordância com o sistema. O nome ou especialidade dos mesmos não são divulgados Assim, eles podem ser chamados tranquilamente de "Doutor ninguém"!
Obrigado pela visita ao Blog!
Olá meu amigo
ResponderExcluirComeçei a ler seu relato e ja fui ficando brabo.
Parei, respirei, voltei e finalmente terminei.
Fico puto da vida com isso, nunca passei por situações dessas e reparei que ou vc tem muita paciencia ou já ligou o Foda-se mesmo.
Uma pena, pois infelizmente essa é a grande realidade do Brasil.
Funcionarios publicos pouco se fodendo pra quem está na sua frente, descaso, omissão etc
Mas veja pelo lado bom, esse ano é ano de eleição e vamos ser vomitados de tanta promessa.
Quem sabe agora vai?
asduhasudhasudahsduashdaudhausd
So rindo mesmo...
Força amigo, que fé sei que vc tem até demais...
Aquele