segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pedalar feliz na "melhor idade".



BREVE SOLILÓQUIO NO JARDIM DAS TULHERIAS


O que quer este menino a andar de bicicleta,
senão lembrar-me do que fui? Senão, tonto de
                                                      [ riso,
entre pombos e pardais no chão ensolarado,
                                                      [ fingir-me?

Não aceito o ter sido. Nem me quero menor
no coração que guardou o assombro e a fábula
de tudo o que viveu como um sonho escondido.

Os dias me cobraram o que era infinito.
E, se agora persigo o pedalar do menino,
é porque sei que sou o final do seu riso.

                    De "Poemas dos Cinqüenta Anos"

Autor: Alberto da Costa e Silva




Comecei o texto com uma poesia, porque não deixa de ser poético pedalar aos sessenta anos. 
É poético saber que enquanto os anos vão se somando a gente vai se sentindo mais próximo das coisas mais simples e prazerosas da vida.

Um dia eu li que "Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional".
Pode-se dizer que passei uma boa parte da minha vida correndo atrás de coisas que eu não precisava. Talvez naquela época eu só quisesse mostrar que eu podia, que eu tinha, que eu era capaz.

Hoje sei que estava enganado, que viver é muito mais simples e mais poético. Pedalar é simples, porisso eu gosto.

Pedalar é atravessar os campos, as cidades, conhecer novas pessoas, rir ou chorar com elas. Pedalar é parar para admirar uma flor e poder fotografá-la. Pedalar é olhar através das montanhas e sentir a incomensurável obra do Criador, é andar na areia da praia, sem receios, sem mistérios, desprovido do mau humor que ás vezes nos acomete.

 
Aos sessenta anos, muitas vezes quando parecemos olhar distante estamos enxergando por dentro de nós, como num grande espelho. Enxergamos os nossos sonhos. Sim,  é preciso ter um sonho mesmo aos sessenta anos! Quando você para de sonhar, você invariavelmente morre. Infelizmente há tantos mortos-vivos por aí!...

Fico pensando... se eu não pedalasse, o que seria de mim hoje? Ah, não consigo e nem quero imaginar! Pegar a minha bicicleta e sair por ai me deixa muito feliz.
Quero continuar absorvendo os doces aromas das estradinhas vicinais, o cheiro do gado, das frutas e do mel. Prefiro observar as chaminés fumegantes das casas simples de sítios e fazendas, exalando aquele cheiro inconfundível de hora de almoço ou de jantar, nem que para isso as minhas pernas tenham que doer um pouco, que eu tenha que por pano molhado na cabeça, sob o sol escaldante. Pensando bem, quando estou pedalando até o cheiro do asfalto me faz bem.

Já tenho sessenta, portanto não preciso mais correr atrás do tempo. Quero curtir a liberdade, quero apenas sentir o ar fresco das manhãs vindo de encontro ao meu rosto, enquanto eu pedalo suavemente,  sorrindo, sonhando vivíssimo com o amanhã. Quero continuar agradecendo ao meu Criador pela oportunidade de ser feliz. Quero continuar a ser aquele menino que pedala pelas ruas ensolaradas afugentando pombos e pardais. Afinal, eu tenho sessenta anos.

Antigão. 

 

sábado, 2 de outubro de 2010

Um "véio" solitário, uma bike e muita chuva!


Olá, amigos!

Depois do pedal para Analândia, no início do mês de setembro, a bike teve que ser pendurada e assim ficou até hoje. Alguns problemas de saúde e trabalho me impediram até mesmo de treinar, como sempre o faço, no mínimo, uma vez por semana.
Nesta semana, já refeito, pensei num pedal para o sábado. Sábado porque domingo é dia de eleição e a gente acaba correndo para lá, correndo para cá, enfrentando filas e o dia vai embora num passe de mágica.
Fazia muito tempo que eu não subia a Serra da Cantareira com destino a Mairiporã. Estava com saudades daquela visão que tanto me empolgava em 2008, quando eu subia frequentemente a Serra.
A previsão do tempo não era nada animadora: 80% de probabilidade de chuva! Mas eu estava com tanta vontade de pedalar que disse a mim mesmo: Se não estiver chovendo canivetes na hora de sair... ah, mas eu vou, se vou! Só o Papai do Céu me impediria!
Fiquei tão ansioso que nem dormi direito! Parecendo criança a espera do Papai Noel!
O relógio não despertou. Eu o despertei! Faltava um pouco para as 6 da manhã. Ajeitei as coisas e zarpei! Era 6:30 quando deixei a minha casa.

Saindo de Casa. 6:30 horas.
Logo na primeira subida senti que estava meio enferrujado, mas fui assim mesmo!
Av. Conselheiro Carrão, baixos do Viaduto Alberto Brada e logo eu estava na Rodovia Fernão Dias. 

Av. Cons. Carrão. Está todo mundo dormindo a essa hora!

Antes de ficar com raiva das placas veja a solução na foto seguinte.
Legal né? Subi pedalando por aqui.
Chegando na Fernão Dias. Só alegria!
Vamos pela lateral. É mais seguro.

A manhã estava fresca e eu não estava levando nem uma muda de roupa. Só uma capa de chuva, dessas descartáveis. Nos pés preferi sandálias, pois se chovesse não teria o inconveniente dos tênis ensopados.

O sol até que tentou vencer a barreira, mas não conseguiu.

Para comer, não levei nada, haja vista que há uma boa estrutura no caminho e para beber apenas pastilhas Suum na água.

Acostamento sujo como sempre! Mas, tá bom. Essa rodovia sempre foi bem suja.
Na serra lembrei do trecho interditado. Um atendente de posto de gasolina onde parei disse que o pessoal não iria permitir que eu passasse na mão interditada, mas eu podia tentar.
Começo do trecho interditado. Só eu na pista.
 Logo que cheguei ao trecho interditado percebi com tristeza que a mão de subida fora desviada para a mão de descida, tornando-a mão dupla. Uma placa amarela, com letras garrafais me assustou! Trecho sem acostamento!!! Observei que as mãos de direção improvisadas eram estreitíssimas. Confesso que pensei em voltar, mas... continuei e peguei a mão interditada. Quem sabe não houvesse guardas e eu conseguisse passar sorrateiramente ou ao menos houvesse um "cantinho" por onde um biker pudesse passar... é, quem sabe?
Começou mudar a paisagem e aparecer o verda da serra que me fascina.

 
Olha só o Antigão aí, bem feliz.
 Fui embora pedalando serra acima. Uma via só para mim.
Mas a alegria do pobre durou pouco. Logo cheguei ao trecho interditado e um guarda saiu em minha direção.
Senhor, não posso permitir a sua passagem, disse ele. Tentei argumentar que pedalar na rodovia era muito perigoso, mas ele esteve irredutível, alegando que seguia ordens e não poderia me deixar passar. Fazer o que?!
Ergui a bike e subi uma escadinha de madeira que dava acesso á rodovia de mão dupla. Passei a bike por cima do paredão de cimento que em condições normais divide a pista e segui pedalando grudado na mureta. As carretas passavam quase esfregando em mim e minhas pernas estavam tremendo de medo. Confesso que tremi de medo mesmo! Ainda bem que o trecho não era tão longo (uns 1.500 metros) e logo saí daquela situação de extremo perigo!
Já fora de perigo, na via normal.




Cheguei ao alto da Serra. Que visão! Mesmo com o tempo encoberto a visão daquele verde preponderante me extasia. Sempre que chego ali glorifico ao Criador.

Que verde!!!
Menos de uns dois minutos depois, ainda antes do túnel as nuvens desabaram sobre mim. Chuva, muita chuva! O vento zunia e me empurrava para trás. Parei debaixo de uma árvore e tratei de vestir minha capa de chuva, assim como proteger máquina de fotografar e demais pertences. Tudo dentro de sacolinhas plásticas.

Entrei no túnel e quando saí o toró tava mais forte ainda. Os pingos de chuva batiam de encontro ao meu rosto e embaralhavam a minha visão. Tentei até me proteger num ponto de ônibus, mas a cobertura era insuficiente. Continuei o pedal assim mesmo, debaixo do toró e parei num posto de combustíveis próximo ao pedágio de Mairiporã.
Aproveitei para tomar um belo café e comer um lanche.
A chuva que não para!
Esperei uns minutos após o café, mas como a chuva não parava continuei o pedal em direção á cidade. Eu havia planejado subir a Estrada do Rio Acima, até a Cachoeira das Sete Quedas, mas os planos tiveram que sofrer mudanças, em função da chuva e do retorno, que não poderia ser feito pela rodovia. Eu não queria arriscar a minha vida de novo!
Já na cidade, parei num posto e me informei sobre um caminho de volta que eu ouvira falar há muito tempo: Estrada da Roseira.
O frentista do posto, que mais parecia um "google maps", explicou direitinho como chegar á Estrada da Roseira.
Segui no sentido de Franco da Rocha e acessei a tão almejada Estrada.
A caminho de Franco da Rocha.

A água barrenta do Rio Juqueri.
 A chuva diminuiu um pouco, mas não parou, obrigando-me a continuar com a incômoda capa de chuva.

Opa! Parece que cheguei á Estrada da Roseira!
 
A Estrada da Roseira é um charme. Uma estradinha bucólica que serpenteia em direção ao cume da Serra da Cantareira. Mesmo com chuva podia se ouvir passáros canoros desfilando seus belos repertórios.

Com a incômoda mas providencial capa de chuva.
Uma coisa que eu aprendi da Estrada da Roseira: Seu lema. Subir sempre, descer nunca!
Amigos, pensem num "véio" que está há quase um mês sem pedalar, debaixo de uma chuvinha gelada, pedalando serra acima. Chegou uma hora que a musculatura das minhas coxas começaram a queimar e eu tinha que fazer constantes paradinhas nas subidas, antes de continuar pedalando serra acima. Se aparece uma descidinha logo virá uma subida em dobro! Mas o visual compensa tudo!
Observem a delicadeza desta simples flor do campo. O caminho todo tem muitas flores assim.


Um pouco de barro não faz mal a ninguém, né?

A chuva parou, graças a Deus e eu pude então tirar a capa. Essas capas fazem a gente transpirar tanto que não sei se não é melhor ficar molhado da chuva!

De onde eu vim...

Para onde eu vou. Subidão danado!!!
As paisagens foram se sucedendo enquando o Antigão pedalava serra acima.

Eu passei por ali.

Olha só o charme dessa construção, com seus paredões de pedra.
Muito bonito!

Parada de ônibus ecológica.


Demorei e resmunguei muito para chegar ao portal, onde começa a enorme descida em direção ao Jaçanã, por onde acessei a Rodovia Fernão Dias, já bem próximo á Zona Leste. 
Ahahah, desci a milhão! Cheguei a dar 60 Km/h mesmo com pista molhada!

Os policiais militares permitiram que eu fotografasse o charmoso portal.
Obrigado! Voltarei sim! Agora é pegar o descidão.
No Jaçanã, parei numa Padaria e degustei um delicioso sanduíche de pernil com molho. A Jovem do caixa, muito simpática autorizou que eu pusesse a bike para dentro da padoca, num cantinho que não atrapalhasse ninguém. Assim pude comer sossegado. Aproveitei para ligar para a patroa e avisar que eu já estava a caminho.

Aerotech segura no interior da padaria.
Esse lanche de pernil está simplesmente delicioso!

Logo peguei a Fernão Dias,  na altura da Vila Galvão e pedalei até minha casa, onde cheguei por volta das 14:30 horas.
Cansado, sim bem cansado, mas feliz por ter feito esse pequeno passeio, mesmo com prenúncio de chuva.


Mais uns 10 Km e estarei em casa.

Agora é só retão! Tchau amigos! Até a próxima!



O passeio foi excelente!

Km Pedalados: 85,900.
Média: 14,5 Km/h.
Velocidade máxima: 60 Km/h
Baixas: Nenhuma.

Agradeço a Deus por ter me permitido esse belo passeio e poder compartilhá-lo com vocês.